A torre mágica do cinema: formação estética em O Menino e a Garça
DOI:
https://doi.org/10.5585/2025.28610Palavras-chave:
cinema e educação, formação estética, hermenêutica, experiência simbólica, Estúdio GhibliResumo
O artigo analisa o filme O Menino e a Garça (2023), de Hayao Miyazaki, como uma experiência estética formativa. Entre o real e o imaginário, Miyazaki constrói uma narrativa sensível sobre o luto, o amadurecimento e o poder transformador da imaginação diante desses processos. O filme opera, assim, como uma meditação sobre o escapismo e o papel das narrativas ficcionais na constituição da subjetividade. Partindo de uma leitura hermenêutica, propõe-se compreender o cinema não como ferramenta pedagógica lógico-racional, saber que os gregos definiam como máthema, mas como provocação sensível que opera pela via do páthei máthos, saber que advém da experiência, do sofrimento e da imaginação. A obra é examinada em sua complexidade simbólica, intertextual e poética, convocando o espectador à coautoria do sentido. Com apoio em autores como Nietzsche, Sontag, Barthes e Merleau-Ponty, defende-se que o filme contribui para uma pedagogia da escolha, que não visa à instrução, mas abre para possibilidades de (trans)formação. A imagem cinematográfica, longe de fornecer respostas unívocas, abre espaço para uma formação pelo sensível, que permite o enfrentamento do niilismo não pela fuga, mas pela criação de si. Assim, o cinema revela-se como uma “torre mágica” que, ao propor um afastamento temporário da realidade pela incursão no reino da fantasia, possibilita que se retorne ao real transformado.
Downloads
Referências
ALIGHIERI, Dante. A divina comédia: Inferno. Tradução de Italo Eugenio Mauro. São Paulo: Editora 34, 1998. ISBN 857326120X.
ALMEIDA, Rogério de. Cinema, imaginário e educação: os fundamentos educativos do cinema. São Paulo: FEUSP, 2024a. ISBN 978-65-87047-70-6. DOI: 10.11606/9786587047706. Disponível em: https://www.livrosabertos.abcd.usp.br/portaldelivrosUSP/catalog/view/1359/1239/4781. Acesso em: 2 abr. 2025.
ALMEIDA, Rogério de. Hermenêutica e processos formativos: elementos para uma pedagogia da escolha. Revista Portuguesa de Educação, v. 37, n. 2, p. 1–28, 2024b. DOI: 10.21814/rpe.28060. Disponível em: https://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0871-91872024000200217. Acesso em: 2 abr. 2025.
ALMEIDA, Rogério de; ARAÚJO, Alberto Filipe de. A transcriação do mundo pela experiência: esboço para uma educação estética. Eccos - Revista Científica, n. 53, p. 1–18, 2020. DOI: 10.5585/eccos.n53.16676. Disponível em: https://periodicos.uninove.br/eccos/article/view/16676. Acesso em: 2 abr. 2025.
BACHELARD, Gaston. A poética do devaneio. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2009. ISBN 9788578272159.
BARTHES, Roland. A morte do autor. In: ______. O rumor da língua. São Paulo: Martins Fontes, 2004. p. 1–10. Disponível em: https://grad.letras.ufmg.br/arquivos/monitoria/A_morte_do_autor_barthes.pdf. Acesso em: 28 mar. 2025.
DENSETSU MEDIA. Metaphor in the Boy and the Heron ~ The Meaning of Ghibli ~. YouTube, 2023. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=jI-Hdlpz7VU. Acesso em: 20 mar. 2025.
DURAND, Gilbert. A imaginação simbólica. Tradução de Eliane Fittipaldi Pereira. São Paulo: Cultrix/EDUSP, 1988.
GUERVÓS, Luis Enrique de Santiago. O antiniilismo estético e a superação do niilismo. Cadernos Nietzsche, v. 39, n. 3, p. 11–29, 2018. DOI: 10.1590/2316-82422018v3903lesg. Disponível em: https://www.scielo.br/j/cniet/a/5VTY6PQPBqGmdbtLS6nXJsK/?format=pdf. Acesso em: 22 mar. 2025.
HELLO FUTURE ME. Why Studio Ghibli Films Hurt So Much. YouTube, 2024. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=DbMdGjQvAuk. Acesso em: 30 mar. 2025.
LARROSA, Jorge. Nietzsche e a educação. Tradução de Semíramis Gorini da Veiga. 3. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2009.
MERLEAU-PONTY, Maurice. O cinema e a nova psicologia. In: XAVIER, Ismail (org.). A experiência do cinema. Rio de Janeiro: Graal, 1983. p. 101–117.
NIETZSCHE, Friedrich. Sämtliche Werke: Kritische Studienausgabe (KSA: 15 vols.). Hrsg. von Giorgio Colli und Mazzino Montinari. Berlin/New York: de Gruyter, 1988.
NIETZSCHE, Friedrich. Obras incompletas. 3. ed. (Coleção Os Pensadores). São Paulo: Abril Cultural, 1983.
NIETZSCHE, Friedrich. Assim falou Zaratustra: um livro para todos e para ninguém. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
O MENINO E A GARÇA. Direção: Hayao Miyazaki. Produção: Toshio Suzuki. Japão: Studio Ghibli, 2023. 1 filme (124 min), son., color.
SCHNEE. How Miyazaki Writes WOMEN. YouTube, 2024. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=QCUKgF3aOsQ. Acesso em: 31 mar. 2025.
SONTAG, Susan. Contra a interpretação. Porto Alegre: L&PM, 1987. p. 11–23.
XAVIER, Ismail. O discurso cinematográfico: opacidade e transparência. São Paulo: Paz e Terra, 2005.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Rogério de Almeida, Sofia Barrozo Witzler

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.
- Resumo 181
- pdf 105
Dados de financiamento
-
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
Números do Financiamento 304890/2023-5

