Diálogos literários na prisão: a literatura como mecanismo de intervenção no cárcere

Resumo

O presente artigo analisa a atuação do projeto de remição de pena pela leitura “Lendo a Liberdade”, desenvolvido em 2024 pelo grupo de extensão universitária “Cárcere, Expressão e Liberdade”, da Universidade Estadual Paulista (UNESP), em parceria com a Penitenciária Masculina de Franca. A partir da observação participante ativa e do estudo de caso, a pesquisa acompanha as práticas de mediação literária desenvolvidas nos encontros mensais, com foco na forma como determinadas obras provocaram reflexões e debates no ambiente prisional. Com base nos relatórios elaborados durante as atividades do projeto, são discutidas as reações dos leitores a livros como O Diário de Anne Frank, Sherlock Holmes: Um Estudo em Vermelho, Diário de Uma Paixão e O Pequeno Príncipe, analisando os temas que emergiram a partir das leituras, como infância, moralidade, vínculos afetivos e identidade cultural. O artigo busca compreender de forma contextualizada como a literatura, ainda que de forma limitada, pode funcionar como instrumento de escuta, expressão e diálogo crítico. Os resultados sugerem que, mesmo em um ambiente marcado pela vigilância e rigidez institucional, a leitura compartilhada pode contribuir para a reflexão social e a valorização das subjetividades dos participantes, configurando-se como uma prática pedagógica relevante no cárcere.