A urgência da mitigação da publicidade na união estável homoafetiva: direito fundamental à privacidade e os precedentes do Tribunal de Justiça paulista

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5585/prismaj.v21n1.20657

Palavras-chave:

família, união estável homoafetiva, publicidade, direitos fundamentais, direito à privacidade

Resumo

Os precedentes do Supremo Tribunal Federal na Arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF) 132 e na Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4277, responsáveis pelo reconhecimento da união estável entre pessoas do mesmo sexo, significou um avanço na conquista dos direitos homoafetivos. Contudo, com a obrigatoriedade de demonstração dos mesmos requisitos exigidos para as uniões estáveis heterossexuais, as uniões homossexuais — na maioria dos casos de conhecimento restrito — enfrentam, na prática, uma enorme barreira: a comprovação da publicidade. Com efeito, não se revela adequada a exigência da notoriedade sem a devida mitigação nos casos que os vínculos não sejam exteriorizados em razão do receio de práticas homofóbicas. Além disso, tal exigência deve ser sopesada de modo a assegurar o direito fundamental à privacidade, previsto constitucionalmente. Conclui-se que a relativização da publicidade nem sempre ocorre, e quando de fato é aplicada, raramente mostra-se suficiente para albergar o reconhecimento das uniões estáveis homoafetivas.

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Biografia do Autor

Dóris Ghilardi, Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC / Florianópolis, Santa Catarina

Professora adjunta do Programa de Pos Graduação em Direito - UFSC

Doutora em Ciência Jurídica

Mariana Carvalho Belussi, Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC / Florianópolis, Santa Catarina

Graduada em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina

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Publicado

13.06.2022

Como Citar

GHILARDI, Dóris; BELUSSI, Mariana Carvalho. A urgência da mitigação da publicidade na união estável homoafetiva: direito fundamental à privacidade e os precedentes do Tribunal de Justiça paulista. Prisma Juridico, [S. l.], v. 21, n. 1, p. 127–141, 2022. DOI: 10.5585/prismaj.v21n1.20657. Disponível em: https://periodicos.uninove.br/prisma/article/view/20657. Acesso em: 18 abr. 2024.

Edição

Seção

Artigos