Educação Infantil: a escuta pedagógica na formação de professores, de Simone do Nascimento Nogueira. São Paulo: Cortez, 2023. 168 p.
DOI:
https://doi.org/10.5585/cpg.v23n2.27314Palavras-chave:
Escuta pedagógicaResumo
Educação Infantil: a escuta pedagógica na formação de professores, obra de Simone do Nascimento Nogueira, traz reflexões acerca do silenciamento histórico sofrido por crianças, jovens e adultos no espaço escolar. Tendo por base a pedagogia crítico-emancipatória e o importante exercício da escuta pedagógica, a autora compartilha com os leitores a experiência formativa que vivenciou com um grupo de docentes, com o intuito de construir uma educação de qualidade e humanizada.
O livro resulta da pesquisa de doutoramento, defendida em 2021, na Universidade Católica de Santos (UniSantos), sob orientação da Prof.ᵃ Dra. Maria Amélia Santoro Franco, que teceu o prefácio da obra.
Simone inicia o livro com a sessão intitulada “Primeiras palavras”, afirmando saber sobre a existência de barreiras a transpor, para ocorrer mudanças nos espaços escolares e educativos, porém acredita que a escuta pedagógica, da maneira como ela apresenta em sua obra, pode contribuir positivamente para essas transformações.
Sua pesquisa foi fundamentada na pedagogia crítica de Paulo Freire, que trouxe como resultado o conhecimento sobre a escuta pedagógica.
Considera importante, na formação docente e nos processos de ensino e aprendizagem, aproximar os saberes da pedagogia crítica, ajudando, assim, a romper com as marcas do percurso silenciador da educação, que vivemos ao longo da história.
Compartilha com o leitor seu percurso na Educação Básica, mostrando um ponto semelhante em diversos papéis que exerceu na educação – o silenciamento dos educandos –, resultado da vivência de uma educação opressora desvelada por Paulo Freire.
Por fim, a autora explica como ocorreu a sua pesquisa de campo, a metodologia escolhida e a questão orientadora do estudo.
O primeiro capítulo, “Escuta pedagógica: construindo diálogos com teóricos, pesquisadores e professores”, é constituído por dois subtítulos que aprofundam o objeto de estudo e a metodologia da pesquisa.
A autora inicia o capítulo nos convidando a refletir sobre a experiência da escuta em nosso percurso escolar e em nossa formação inicial e continuada. Discute a semântica das palavras escutar e ouvir, que, embora se originem do latim, possuem diferenças de sentido sutis.
Ela denuncia a ação do silenciamento e da não escuta, permeadas por ações antidemocráticas, que estão enraizadas em nosso país, por meio das políticas educacionais e legislações. Ressalta a urgência de termos espaços para a fala e a escuta, além de buscarmos auxílio da teoria para transformar a prática diária.
Seus argumentos fundamentam-se no diálogo freiriano para que a escuta pedagógica ocorra de forma respeitosa, consciente e reflexiva, tendo atenção à fala do outro, e acrescenta ainda que se faz necessário termos a amabilidade para a interpretação dos gestos, posturas, preferências e dificuldades dos interlocutores, a fim de compreendermos conscientemente essa escuta.
Discorre sobre quatro elementos essenciais para a efetivação da escuta pedagógica, sendo eles: a participação infantil nos processos de tomadas de decisões nos ambientes escolares, perguntas que resultem na busca de porquês, o princípio da colaboração e o comprometimento do adulto em realizar essa escuta atenta.
Por fim, a autora salienta que o diálogo na horizontalidade foi fundamental para que as reflexões, no grupo de professores, ocorressem, contribuindo para o exercício do desenvolvimento da escuta pedagógica, para a problematização da prática docente, para a aproximação teórica e para o pensar e o refletir consciente e coletivamente.
A obra apresenta, na sequência, o capítulo “A escuta – percursos de vida e profissão”, composto por quatro subtítulos complementares. Ao longo do capítulo, Simone utiliza de trechos transcritos dos participantes da pesquisa, para compartilhar com o leitor a trajetória dessa formação. Por meio de uma sólida análise crítica, discorre sobre o desafio da formação inicial dos professores à formação continuada; analisa os documentos oficiais direcionados à Educação Infantil, objetivando pesquisar sobre como a escuta é mencionada nesses documentos.
Apresenta, à luz do ideário de Paulo Freire, a diferença entre a educação bancária e a problematizadora. Traça um breve paralelo com a educação vivenciada nos espaços e tempos atuais no cotidiano escolar, que evidencia claros reflexos da educação bancária na formação docente, resultando na padronização do processo de ensino e aprendizagem.
Juntamente com o percurso histórico da Educação em nosso país, Simone traça o percurso da formação docente do professor. Ressalta, também, a maneira como está estruturado o curso de Pedagogia para a formação de professores, que não contribui para o fazer docente consciente e reflexivo, pois as necessidades de aprendizagens do professor dos anos iniciais da Educação Básica diferem das aprendizagens do professor de Educação Infantil. Afirma que a base para a formação polivalente do professor deveria ser a pedagogia crítica.
De forma crítica, Simone apresenta a sua análise sobre as propostas da BNC-Formação e a Base Nacional Comum Curricular de Educação Infantil, que, em sua visão, não contempla uma educação crítica e progressista, apoiada na pedagogia freiriana.
Analisa como a escuta das crianças é referenciada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, concluindo que, nos documentos citados, a escuta, como orientação pedagógica, não é ressaltada.
Simone apoia-se em Edwards et al. (2016) e Pinazza (2007), entre outros autores, para contemplar e validar o verdadeiro sentido da experiência.
Finaliza sugerindo a leitura compartilhada dos documentos oficiais coletivamente, a fim de contribuir para as nossas reflexões. A autora convida o leitor a realizar o exercício de autoescuta, de revisitar a memória e pesquisar sobre a sua própria prática.
O último capítulo, “A escuta se constituindo pedagógica”, é composto por três subtítulos que se complementam e reforçam o que foi apresentado anteriormente. A autora compartilha conosco o processo dos professores participantes para a constituição da escuta pedagógica e, para isso, apresenta os diálogos que ocorreram nos encontros formativos, objetivando aproximar o leitor da dinâmica.
A autora destaca que o processo formativo dialógico levou ao desenvolvimento da consciência crítica pelos participantes, promovendo a compreensão da importância da escuta pedagógica como sendo uma prática humanizadora, que rompe com o silenciamento das crianças, reconhecendo, dessa forma, a alteridade infantil.
Na sessão “Palavras finais”, Simone compartilha que foi por meio da escuta pedagógica que encontrou a possibilidade de tornar a escola mais justa, inclusiva e de qualidade para todos, sendo esse o fio condutor da obra, que visa priorizar a criança como um ser de direitos, democratizando a relação adulto e criança.
Finaliza o livro reconhecendo que os conhecimentos construídos, referentes à escuta pedagógica, não são estáveis, não estão prontos, são inconclusos, como nós seres humanos. Trata-se da escuta amorosa de alma freiriana. Insiste que continua acreditando na escola pública, como sendo um espaço privilegiado para a formação e para o desenvolvimento do pensamento crítico, principalmente para as classes menos favorecidas, que necessitam ser escutadas.
A leitura desta obra é recomendada para todos os profissionais da educação, interessados em qualificar sua prática por meio das vivências escolares, interpretando o que as crianças querem nos dizer, mediante diferentes linguagens, rompendo, desta forma, com a construção de um cidadão passivo e não crítico.
De forma geral, a obra contribui para a reflexão sobre a trajetória educacional em nosso país, e a imprescindível ação da escuta intencional, como base para a qualificação do trabalho dos educadores.
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