As práticas de Consumo no processo de transição capilar das mulheres brasileiras com cabelos crespos e cacheados
DOI:
https://doi.org/10.5585/remark.v20i4.15828Palabras clave:
Consumo, Teoria da prática, Cabelo, Estigma, CircuitoResumen
Objetivo: O presente artigo tem por objetivo analisar as maneiras de consumir que perpassam o processo de transição capilar de mulheres brasileiras que passam a assumir as texturas crespas e cacheadas de seus cabelos, deixando de consumir alisamentos.
Metodologia: O fenômeno retratado é estudado nesta pesquisa por meio do circuito da prática que relaciona os objetos com fazeres e seus significados (Magaudda, 2011), o qual é complementado com a concepção de circuito trazida por Braga (2012) onde buscou-se analisar os circuitos dentro dos campos sociais do mercado, da sociedade, do cotidiano e das interseções da mídia no circuito como um todo.
Originalidade/Relevância: Ampliação dos estudos entre práticas de consumo e estigma social. Ampliação do corpus de estudo com a integração de mulheres com diferentes tons de pele, fator considerado importante em uma sociedade tão miscigenada como a brasileira. Inovação metodológica com a junção de dois aportes metodológicos.
Resultados: Por meio da análise do corpus, emerge como principal resultado a trajetória capilar compartilhada entre as entrevistadas. Tal trajetória representa uma visão macro das manipulações capilares empreendidas que, ampliada, compõe-se de quatro circuitos principais: (I) textura virgem do cabelo; (II) adoção do alisamento; (III) transição capilar - que implica no abandono do alisamento; (IV) retorno à textura virgem do cabelo. A partir da análise dos circuitos, este trabalho traz de inovação teórica a associação das práticas de consumo com contextos mais amplos de significação, englobando os ambientes sociais, mercadológicos e midiáticos, contribuindo para a intensificação do debate dos elementos imbricados no comportamento de consumo. Nesse sentido, o artigo também contribui teoricamente para a inserção da noção de midiatização da sociedade - enfatizando especialmente a inventividade de seus usos pelo consumidor.
Contribuições Teóricas: (i) ampliação das discussões sobre consumo pelas lentes da teoria da prática; (ii) demonstração que a articulação entre objetos, fazeres e significados potencializam um entendimento mais aprofundado das práticas de consumo; (iii) articulação entre os aspectos sociais, mercadológicos, cotidianos e midiáticos para analisar os processos de transformação das práticas de consumo.
Descargas
Citas
Andrade, G.L.S.P., Ribeiro, C. S. V., Magalhães, M. S., & Sales, A. T. B. (2017). Empoderamento Feminino através da Valorização do Cabelo Crespo/Cacheado. Revista Formadores, 10(6), 90-90. Recuperado de http://www.seer-adventista.com.br/ojs3/index.php/formadores/article/view/955/730
Arsel, Z.; Bean, J. (2012). Taste regimes and market-mediated practice. Journal of Consumer Research, 39(5), 899-917. doi: https://doi.org/10.1086/666595
ABHIPEC. (2017). Panorama do Setor de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos, Resultados 2016. Disponível em: https://abihpec.org.br/novo/wp-content/uploads/2016-PANORAMA-DO-SETOR-PORTUGU%C3%8AS-14jun2016.pdf
Banks, I. (2000). Hair matters: Beauty, power, and black women's consciousness. Nova York: New York University Press.
Bourdieu, P. (2003). Usos sociais da ciência: por uma sociologia clínica do campo científico. São Paulo: Editora UNESP.
Bouzón, P. (2008). Cabelos e construção de identidades: incursão antropológica em um salão de beleza. In: CASSOTTI, L.; SUAREZ, M.;
CAMPOS, R.(Org.). O tempo não para: consumo e comportamento feminino, novos olhares. Rio de Janeiro: Senac Nacional.
Braga, J. L. (2012) Circuitos versus campos sociais. Mediação & Midiatização. Salvador: EDUFBA, 31-52. Recuperado de http://www1.pucminas.br/imagedb/documento/DOC_DSC_NOME_ARQUI20180205111302.pdf
C
astañeda, M. (2010). Teorias das práticas na análise do consumo. Ciências Sociais Unisinos, 46(3), 248-255. doi: https://doi.org/10.4013/581
Castro, C. F. S.; Kabengele, D. (2017). O cabelo crespo e cacheado e a construção da identidade no grupo virtual cachos alagoanos. Caderno de Graduação - Ciências Humanas e Sociais, Maceió, 4 (1), 101. Recuperado de https://periodicos.set.edu.br/fitshumanas/article/view/4124
Da Hora, N. S. et al. (2015) Uma percepção sobre o racismo sutil na publicidade televisiva brasileira. Revista Brasileira de Psicologia, 2. Recuperado de https://periodicos.ufba.br/index.php/revbraspsicol/issue/viewIssue/Edi%C3%A7%C3%A3o%20Especial/512
De Rocco, A. T. (2020). As interações entre os produtos estéticos para os cabelos crespos e as mulheres negras. Revista de Ciências Sociais, 51(2), 277-306. doi: https://doi.org/10.36517/rcs.51.2.a02
EUROMONITOR (2020). Hair Care in Brazil. Disponível em: https://www.euromonitor.com/hair-care-in-brazil/report.
Feiereisena, S., Rasolofoarison, D., De Valck, K., & Schmitt, J. (2019). Understanding emerging adults' consumption of TV series in the digital age: A practice-theory-based approach. Journal of Business Research, 95, 253-265. doi: https://doi.org/101016/j.jbusres.2018.08.024
Franco, M. L. P. B. (1986). O que é análise de conteúdo. Cadernos de Psicologia da Educação, PUCSP (7), 1-31.
Fuentes, Christian, Fredriksson, Cecilia , (2016),"Sustainability service in-store: service work and the promotion of sustainable consumption", International Journal of Retail & Distribution Management, Vol. 44 Iss 5 pp. doi: https://doi.org/10.1108/IJRDM-06-2015-0092
Fuentes, C., Hagberg, J., & Kjellberg, H. (2019). Soundtracking: music listening practices in the digital age. European Journal of Marketing. doi: https://doi.org/10.1108/EJM-10-2017-0753
Giddens, A. (2002). Modernidade e identidade. Zahar.
Giddens, A. (2003). A constituição da sociedade. 2ª ed. São Paulo: Livraria Martins Fontes.
Goffman, E. (1988). Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. 4ª ed. LTC.
Gomes, N. L. (2003). Educação, identidade negra e formação de professores/as: Um olhar sobre o corpo negro e o cabelo crespo. Educação e pesquisa, 29(1),167-182. doi: https://doi.org/10.1590/S1517-97022003000100012
Gomes, N. L. (2008). Sem perder a raiz: corpo e cabelo como símbolos da identidade negra. 2 ed. Belo Horizonte: Autêntica.
Google®. (2017). A revolução dos cachos. Dossiê BrandLab.
Halkier, B.; Jensen, I. (2011) Methodological challenges in using practice theory in consumption research. Examples from a study on handling nutritional contestations of food consumption. Journal of Consumer Culture, 11(1),101-123. doi: https://doi.org/10.1177/1469540510391365
Halkier, B; Katz-Gerro, T.; Martens, L. (2011) Applying practice theory to the study of consumption: Theoretical and methodological considerations. Journal of Consumer Culture, 11(1), 3-13. doi: https://doi.org/10.1177/1469540510391765
Hand, M., Shove, E., & Southerton, D. (2005). Explaining showering: A discussion of the material, conventional, and temporal dimensions of practice. Sociological Research Online, 10(2), 101-113. doi: https://doi.org/10.5153/sro.1100
Harvey, M. et al. Between demand and consumption: a framework for research. Centre for Research on Innovation and Competition Discussion Paper, 40. Recuperado de https://www.researchgate.net/profile/Andrew_Mcmeekin/publication/267375387_Between_demand_consumption_a_framework_for_research/links/5458c5e40cf2bccc4912a59c.pdf
Jucker, A. H. (2003). Mass media communication at the beginning of the twenty-first century: Dimensions of change. Journal of Historical Pragmatics, v. 4 (1), 129-148. doi: https://doi.org/10.1075/jhp.4.1.07juc
Le Breton, D.(2007). A sociologia do corpo. 2ª ed. Petrópolis: Vozes.
Magaudda, P. (2011). When materiality ‘bites back’: Digital music consumption practices in the age of dematerialization. Journal of Consumer Culture, 11 (1), 15-36. doi: https://doi.org/10.1177/1469540510390499
Magaudda, P., & Minniti, S. (2019). Retromedia-in-practice: A practice theory approach for rethinking old and new media technologies. Convergence, 25(4), 673-693. doi: https://doi.org/10.1177/1354856519842805
Major, B.; O'brien, L. T. (2005). The social psychology of stigma. Annu. Rev. Psychol., 56, 393-421. doi: https://doi.org/10.1146/annurev.psych.56.091103.070137
Matos, L. (2016). Transição capilar como movimento estético e político. In: I Seminário Nacional de Sociologia da UFS, 1, 2016. Anais…. Sergipe: 845-858.
Mercer, K. (1987). Black hair/style politics. New formations, (3), 33-54. Recuperado de http://banmarchive.org.uk/collections/newformations/03_33.pdf
Mesquita, J. S., Teixeira, J. C., & Silva, C. R. (2020). “Cabelo (crespo e cacheado) pro alto, me levando a saltos” em meio à ressignificação das identidades de mulheres negras em contextos sociais e organizacionais. Revista Eletrônica de Ciência Administrativa, 19(2), 227-256. doi: https://doi.org/10.21529/RECADM.2020010
Mirabito, A. et al. (2016) The stigma turbine: a theoretical framework for conceptualizing and contextualizing marketplace stigma. Journal of Public Policy & Marketing, 35 (2), 170-184. doi: https://doi.org/10.1509/jppm.15.145
Molander, S. (2011). Food, love and meta-practices: A study of everyday dinner consumption among single mothers. Research in Consumer Behavior, 13, 77-92. doi: https://doi.org/10.1108/S0885-2111(2011)0000013008
Molander, S. (2017). Not just a mother: embodied and positional aspects of consumer learning from a practice perspective, Consumption Markets & Culture, 20:2, 131-152. doi: https://doi.org/10.1080/10253866.2016.1193014
Montardo, S. P. (2016). Consumo Digital e Teoria de Prática: uma abordagem possível. Revista FAMECOS: mídia, cultura e tecnologia, 23 (2), mai-ago. doi: https://doi.org/10.15448/1980-3729.2016.2.22203
Moraes, C. et al. (2015). Understanding ethical luxury consumption through practice theories: a study of fine jewellery purchases. Journal of Business Ethics, 145, 525-543. doi: https://doi.org/10.1007/s10551-015-2893-9
Nairn, A., & Spotswood, F. (2015). Obviously in the cool group they wear designer things. European Journal of Marketing. doi: https://doi.org/10.1108/EJM-10-2013-0557
Murphy, S.; Patterson, M. (2011). Motorcycling edgework: A practice theory perspective. Journal of Marketing Management, 27 (13-14), 1322-1340, dez. doi: https://doi.org/10.1080/0267257X.2011.627366
Phipps, M., & Ozanne, J. L. (2017). Routines disrupted: Reestablishing security through practice alignment. Journal of Consumer Research, 44(2), 361-380. doi: https://doi.org/10.1093/jcr/ucx040
Pires, K. T., & Mocelin, MC. (2016). Manipulando cabelos e identidades: um estudo com mulheres negras em Santa Maria - RS. Revista África e Africanidades, 9(21). Recuperado de https://africaeafricanidades.net/documentos/0120210042016.pdf
Reckwitz, A. (2002). Toward a theory of social practices: a development in culturalist theorizing. European Journal of Social Theory, 5(2), 243-263. doi: https://doi.org/10.1177/13684310222225432
Robinson, T. D., & Arnould, E. (2020). Portable technology and multi-domain energy practices. Marketing Theory, 20(1), 3-22. doi: https://doi.org/10.1177/1470593119870226
Rosenthal, A. (2004). Raising hair. Eighteenth-Century Studies, 38(1), 1-16. doi: https://doi.org/10.1353/ecs.2004.0064
Sandikci, O.; Ger, G. (2009). Veiling in style: How does a stigmatized practice become fashionable?. Journal of Consumer Research, 37 (1), 15-36. doi: https://doi.org/10.1086/649910
Santana, Bianca. Mulher, cabelo e mídia. Revista Communicare – Dossiê Feminismo, v. 14, n. 1, p. 132-144, 2014. Recuperado de https://casperlibero.edu.br/wp-content/uploads/2015/08/Mulher-cabelo-e-m%C3%ADdia.pdf
Sauerbronn, J. F. R.; Teixeira, C. S.; Lodi, M. D. F. (2019). Saúde, estética e eficiência: relações entre práticas de consumo de alimentos as mulheres e seus corpos. Cadernos EBAPE. 17 (2), 389-402. doi: https://doi.org/10.1590/1679-395173205
Schatzki, T. (2005). Introduction: practice theory. In: Cetina, K. K; Schatzki, T. R.; Von Savigny, E. (Ed.). The practice turn in contemporary theory. Routledge.
Shove, E.; Pantzar, M.; Watson, M. (2012). The dynamics of social practice: Everyday life and how it changes. Sage.
Thurnell-Read, T. (2018). The emborgeoisement of beer: Changing practices of ‘Real Ale Consumption. Journal of Consumer Culture, 18(4), 539-557. doi: https://doi.org/10.1177/1469540516684189
Tolson, Andrew. A new authenticity? Communicative practices on YouTube. Critical Discourse Studies, v. 7, n. 4, p. 277-289, 2010. doi: https://doi.org/0.1080/17405904.2010.511834
Torkkeli, K., Mäkelä, J., & Niva, M. (2020). Elements of practice in the analysis of auto-ethnographical cooking videos. Journal of consumer culture, 20(4), 543-562. doi: https://doi.org/10.1177/1469540518764248
Tyler, I. (2018). Resituating Erving Goffman: From Stigma Power to Black Power. The Sociological Review, 66 (4), 744-765. doi: https://doi.org/10.1177/0038026118777450
Valor Econômico. Venda de produtos para cabelos deve crescer 5% ao ano até 2021. Jun. 2017. Disponível em: http://www.valor.com.br/empresas/5010938/venda-de-produtos-para-cabelos-deve-crescer-5-ao-ano-ate-2021). Acesso em: 12/02/2018.
Vinuto, J. (2014). A amostragem em bola de neve na pesquisa qualitativa: um debate em aberto. Temáticas, 22 (44), 203-220, ago-dez. doi: https://doi.org/10.20396/tematicas.v22i44.10977
Warde, A. (2005). Consumption and theories of practice. Journal of consumer culture, 5 (2), 131-153. doi: https://doi.org/10.1177/1469540505053090
Warde, A. (2016). Consumption: A sociological analysis. Londres: Palgrave Macmillan.
Warde, A. (2014). After taste: Culture, consumption and theories of practice. Journal of Consumer Culture,14 (3), 279-303. doi: https://doi.org/10.1177/1469540514547828
Descargas
Publicado
Cómo citar
Número
Sección
Licencia
Derechos de autor 2021 Revista Brasileira de Marketing
Esta obra está bajo una licencia internacional Creative Commons Atribución-NoComercial-CompartirIgual 4.0.