Editorial 56

Resumo

Em épocas de tensão crescente – nascida não apenas de um contexto político regional, com evidentes ameaças ao regime democrático instituído, mas também de um contexto mundial, em razão da generalizada pandemia de COVID-19 –, refletir sobre a educação no Brasil e as formas de torná-la cada vez mais popular e democrática representa, a um só tempo, uma premente e perene responsabilidade com o necessário exercício do pensamento crítico e a resistência política e acadêmica educacional.

Neste contexto pandêmico, diante da negligência das autoridades em garantir vacinação para toda a população, diferentes sociedades cientificas e entidades de reconhecida respeitabilidade nacional, como é o caso da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (Anped), vêm alertando a sociedade sobre sistemático abandono das principais agências de fomento científico do país e do significado do esvaziamento de sua indispensável importância na busca pela superação das desigualdades políticas, econômicas e culturais que fincam raízes muito profundas na sociedade brasileira.         

São tempos difíceis e áridos, a história do tempo presente nos exige o compromisso inarredável com a defesa da valorização da produção e da disseminação do conhecimento científico como elos inseparáveis da construção da cidadania, de um projeto de país e da soberania nacional brasileira. A revista EccoS, com a publicação de mais este número, vem contribuir para essa demanda, trazendo uma série de artigos e resenhas críticas que versam sobre os mais variados assuntos, todos eles, direta ou indiretamente, relacionados à educação e suas diversas vertentes.

Neste número, optou-se por não apresentar um dossiê, com tema específico, como tem ocorrido tradicionalmente nesta revista, mas oferecer ao leitor um conjunto de textos sobre os mais variados temas, compondo, assim, um amplo painel crítico acerca dos problemas – e sugestões de soluções! – que a educação tem enfrentado atualmente.

Além disso, cabe registrar que a revista recebeu, em editais anteriores, tão grande número de artigos submetidos, que os editores foram obrigados a suspender o processo de submissão, dado o acúmulo de artigos em estoque. Assim, a renúncia ao tradicional dossiê se deveu, também, a uma decisão dos editores que apontou para a oferta de mais espaço para a publicação de mais artigos aprovados pelos pareceristas. A ideia foi a de acelerar a publicação de trabalhos de pesquisadores/pensadores da educação que confiaram no periódico e, por isso, os editores aproveitam a ocasião, bem como se desculparem pela paciente espera pela publicação. Debitem, por favor, na conta da qualidade da própria revista a atração de tantos autores e autoras.

Entretanto, os leitores foram premiados, desse modo, com as contribuições que provêm das cinco regiões do país e até do estrangeiro, trazendo-se, aqui, para leitura e reflexão do público, artigos que tratam tanto das tecnologias digitais voltadas para a educação, quanto da construção de indicadores de qualidade na escola; tanto do recentre e polêmico projeto de lei cognominado “Escola sem Partido”, quanto do também polêmico projeto do Ensino Médio Politécnico; tanto da Sociologia da Infância e suas interfaces com a educação, quanto da educação superior no Brasil e em Portugal, entre muitos outros temas. Assim, procurou-se contemplar, neste número, não apenas a Educação Infantil e o Ensino Fundamental, mas também o Ensino Médio e o Superior, oferecendo ao leitor um vasto cenário acerca das mais relevantes questões da educação brasileira na atualidade.

A revista EccoS, dando continuidade a seu compromisso com a pesquisa científica de qualidade na área de educação, referenciada na liberdade de expressão e na diversidade cultural – o que se reflete na abordagem de assuntos como as práticas docentes, a arte-educação, os jogos cognitivos e o brincar na infância, as aprendizagens em espaços não formais etc. –, vem contribuir, mais uma vez, não somente para  a comunidade acadêmica, no sentido de ampliar os espaços de discussão e reflexão críticas, mas também para toda a sociedade, no sentido de oferecer contribuição para a superação dos problemas e desafios que a própria humanidade se põe, especialmente no campo educacional, esperando, com isso, estimular um estágio mais elevado de convivência social com solidariedade, por meio da reflexão pedagógica que, cada vez mais, se afirma como a ciência dos fenômenos educacionais, tão importantes para o processo civilizatório.

Boa leitura!