Ecos do silêncio no tom poético de Marco Lucchesi
DOI:
https://doi.org/10.5585/2025.27992Palavras-chave:
LiteraturaResumo
A obra Silêncio, de Marco Lucchesi, evidencia uma sinfonia literária em três movimentos, articulada em torno de cento e cinquenta aforismos, que repercutem a profundidade filosófica e poética do autor, em uma viagem ao âmago do ser e do cosmos. Nas presenças e ausências das sonoras palavras, vivenciam-se momentos de suspensão, respiro e transcendência, ao permitirem a compreensão de inefáveis ideias nos plurais espaços do percurso, lembrando o trabalho original e arrojado do compositor e regente Stravinsky em sua criação musical: “Na rítmica, a originalidade da técnica e a assimetria audaciosa e perturbadora subvertem o sentido de causalidade da métrica tradicional. ”[1]
A partir das epígrafes de John Cage, Hölderlin e Kant, o autor conduz sua poesia pelas veias do sublime ritmo da palavra a ecoar no espaço vazio para se dissolver e se refazer infinitamente. Alcança as alturas do espiritual e do excelso, ao desafiar as rígidas categorias e abrir caminho para o mistério, a partir de negações, afirmações e questionamentos a fim de que se possa confrontar a respeito dos limites da linguagem e, consequentemente, da compreensão humana, em um ambiente criativo das partes: “Melodia do Logos”, do “Éter” e “Aφελε παντα”. [2]
E, ao seguir as marcas deixadas pelo autor, cogita-se descortinar um pouco da grandeza do círculo hermenêutico que volteia as páginas de Silêncio, em tríplice momentos: “o tom dialético do silêncio”; “a inquietude da palavra poética”; “a escuta sagrada do silêncio”, pensando nas palavras iniciais de Lucchesi: “Tenho a esperança de que formem um ecossistema, que correspondam a um círculo hermenêutico.” [3]
O tom dialético do silêncio
O silêncio de Marco Lucchesi assume um papel multifacetado, pois é ao mesmo tempo ausência e presença, vazio e plenitude, ponto de partida para o conhecimento. Na dinâmica dos opostos, o leitor se depara com diversos cenários e variações que, para escutá-lo, pede leitura, releitura, paciência e profunda reflexão mediante a polifonia de sua literatura, lembrando a menção de Heller (2088)[4] sobre uma experiência musical de Cage: “por mais que tentemos fazer silêncio não o podemos: não há silêncio que não esteja grávido/prenhe de som: ‘nenhum som teme o silêncio que o extingue, e não há silêncio que não esteja grávido de sons. ”
O tom dialético, nos primeiros cinquenta aforismos, repercute na potente melodia, ao valorizar o silêncio em sua plenitude como uma experiência direta e subjetiva digna de ser explorada, em sua importante relação com a palavra. A interior voz do poeta envolve e entoa a urgente necessidade de compartilhar e perscrutar com o outro tudo o que de estético, ético e sensorial se ouviu em “Melodia do Logos”, na entonação do pensamento de Bachelard (2003): “A repercussão opera uma revirada do ser – parece que o ser do poeta é nosso ser e que tudo que é especificamente humano no homem é logos, compreendemos a imagem poética como acontecimento do logos, e esta é (para nós) inovadora. ”[5]
O finito e o infinito, o humano e o divino, o conhecido e o incognoscível carregam a metáfora neoplatônica da negação, do excesso e remoção, na tentativa de negar as limitações, ampliar o sentido de plenitude e desfazer as inadequadas concepções a respeito do silêncio, no entanto, sem a necessidade de buscar uma síntese final ou mesmo explicar, quem sabe, a de evocar a coexistência das tensões conforme as notas de uma composição musical. Lucchesi, dessa maneira, propõe ao leitor considerar o contínuo fluxo do silêncio como se fora uma melodia aberta à incomensurável interpretação e possível de redescobrir o mundo, na: “Defesa do silêncio, não do vazio. Isento de passiva ou imóvel condição. Dinâmica de orvalho sobre pétalas. Apofasia. ” [6]
O diálogo em Silêncio é meditativo e realiza-se aos acordes da poesia, entrelaçando ecos de mistério e revelação. O não dito parece dar o tom à intensidade do sentir, na passagem das palavras impressas por tintas do criar, traçar linhas possíveis e abrir novas possibilidades de vidas, no mesmo ritmo sugerido por Paz (1982) ao afirmar que: “O ritmo não é medida, nem algo que está fora de nós; somos nós mesmos que nos transformamos em ritmo e rumamos para ‘algo’. O ritmo é sentido e diz ‘algo’. Assim seu conteúdo verbal e ideológico não é separável. Aquilo que as palavras do poeta dizem já estão sendo dito pelo ritmo em que as palavras se apoiam. ”[7]
A inquietude da palavra poética
A tensão entre o indizível e o poder expressivo da palavra poética parece ser o eixo central da obra, pois, ao longo dos aforismos o autor explora a fugidia natureza da linguagem e sua relação com o silêncio como força primordial. Ao fixar o pensamento de Hölderlin, no início de “Éter” com dois versos do poema “Quando Era Menino ...”, presume-se encontrar uma matriz de significados que desafia a linearidade e a superficialidade do discurso cotidiano, a partir da expressiva palavra, que o poeta e filósofo alemão sintetiza em: “Entendia o silêncio do Éter / Palavras dos homens nunca as entendi. ”
Ao perceber o silêncio do éter, Lucchesi inspira o leitor a habitar o entremeio, ou seja, um espaço intermediário entre a vastidão do inexprimível abismo e o limitado potencial da linguagem, em uma saudável inquietude, de maneira que a palavra ressurja e ecoe, embora fragmentária, em inomináveis verdades, assim como retrata nos cinquenta axiomas de “Éter”, de acordo com alguns exemplos de perfeitas metáforas:
“O silêncio é a matéria do poema. Capaz de circundá-lo em seu teor fosforescente. ” [8]
“Brota do espaço entre os signos. Antes, no corpo da palavra. A cada consoante, e em todas as vogais.” [9]
“Dinâmica do orvalho. Cinética da noite. Aportes do silêncio. ”[10]
“Intimidade na distância. Um salto descontínuo. E o todo que se atinge de modo parcial. Às margens do silêncio, enquanto salvaguarda. ”[11]
“Silêncio e não silêncio. Palavra e não palavra. Poética nascente. Manancial. ”[12]
Silêncio repercute a inquietante palavra nos versos de Rilke, no Paraíso de Dante, nos abismos do cosmos, na superfície da natureza e, ao unir poetas do Oriente do Ocidente consagra o silêncio como uma presença que perpassa culturas, épocas e paisagens. Tece um sublime e delicado diálogo com Nietzsche – “o orvalho desce sobre a relva quando a noite é mais silenciosa. ”[13] –, permitindo ao repouso ser um fértil espaço de criar e recriar o mundo sensível e o pensamento filosófico.
Após ler e reler diversas vezes esse pensamento, vislumbra-se o orvalho nietzschiano em uma multiplicidade de sentidos, que, dentre eles, destacam-se o processo silencioso de renovação da terra e o emergir de ideias durante os momentos de introspecção e quietude, além de olhar o repouso, não apenas como inércia, porém, um terreno propício ao florescimento do novo e do recriar constante da existência. Nesse contexto, Deleuze (1976) ao mencionar Nietzsche aponta: “Todo aforismo deve, portanto, ser lido duas vezes. Com o lance de dados, começa a interpretação do eterno retorno, mas ele apenas começa. ”[14]
A escuta sagrada do silêncio
No momento dos últimos cinquenta aforismos, instaura-se um profundo diálogo entre o humano e o universo. Evoca tradições filosóficas e místicas, ao abrir um portal de força criadora, permitindo que o reverberar de vida e de morte encontre morada na consciência, “nos densos pressupostos kantianos.”, haja vista, a vontade de Lucchesi, assim como Kant, relembrar a relação entre a finitude da linguagem humana e a tentativa de capturar o infinito ou eterno em palavras.
Ao utilizar a expressão “Deixe tudo”[15] para nomear a última parte da obra, sugere um despojamento, um caminho para a essência do discurso e do ser, no sentido de libertar-se das diferenças sociais, preconceitos e divagações que obscureçam o irrevogável, em um silêncio, que pode estar relacionado com o que Kant vislumbra nos limites da experiência e do sublime, em sua reflexão sobre a experiência estética e moral. Para Kant, portanto, a moralidade está intrinsecamente ligada à autonomia da razão prática e ao respeito pela moral dentro de nós.
E o silêncio pode ser visto como uma pausa necessária para ouvir essa lei interior, um momento de recolhimento em que a voz da consciência se torna audível, sendo que o autor frequentemente associa o silêncio a momentos de introspecção, em que a alma humana encontra ressonância com o universal e o eterno.
Lucchesi estabelece um diálogo filosófico com Kant, a partir da conjuntura sobre a natureza humana face à conduta moral no que tange a: “no homem não há germes senão para o bem”. [16] E descreve o silêncio como um estado em que a imaginação se vê incapaz de abarcar a grandiosidade da natureza ou de certos conceitos, como o infinito ou o absoluto. Esse silêncio não é apenas a ausência de som, mas a experiência de um limite que desafia a razão e, ao mesmo tempo desperta um sentimento de reverência diante do místico: “Silêncio místico, pós-racional. Leituras do intervalo, propostas lacunas.” [17]
Portanto, tanto para Kant quanto para Lucchesi, o silêncio emerge como um terreno sagrado, diante do qual se realiza a transcendência – um espaço de experiência estética, ética e espiritual a se fundirem na relação com o mundo e a linguagem, conforme se pode constatar no seguinte fragmento: “Silêncio corpo sem corpo, matéria sem matéria. Dissolve-se o Eu-Tu. Resta somente o traço de união”. [18]
E a proposta dialógica do filósofo e teólogo Martin Buber, ao apresentar de forma clara duas atitudes do ser humano frente ao mundo, por intermédio dos princípios “Eu-Tu e Eu-Isso”, amplia o sentido de realização do homem no relacionamento com o outro, de forma a se encontrar preparado para ouvir atento a palavra e encontrar-se pronto a respondê-la, inclusive ao se dirigir a Deus: “Ouvir a palavra que é dirigida, por mais desafinado que seja o som com que ela fira o teu ouvido – e não deixar ninguém interferir! Dar a resposta vinda das tuas profundezas, onde vibra ainda o sopro daquilo que te foi insuflado – e a ninguém é permitido de influenciar.” (Buber, 1982, p. 112). [19]
Em Silêncio, o autor (EU) direciona a palavra ao leitor (Tu) em um verdadeiro diálogo, mediado por uma atenta e profunda escuta, no sagrado espaço do Absoluto. Resgata, assim, o estado essencial para a contemplação do divino que transcende todo o conhecimento e a linguagem pela “via negativa” do silêncio na Teoria Mística de Pseudo-Dionísio, conforme já declarava Marco Lucchesi em Nove Cartas sobre a Divina Comédia: “A expressão dionisiana deságua, enfim, no silêncio radical. O vigor dessa teologia negativa e silenciosa, resplandece no céu da Divina Comédia ou no seio da noite escura de Juan de la Cruz. / “Ouça a música das palavras e o valor do silêncio. ”[20]
O tom simbólico ecoa na composição do silêncio poético, ao infinito - - -
A melodia dos instantes poéticos de Silêncio é ininterrupta. Vem do passado, cruza o presente e entoa o futuro de uma edificante paz universal, ao sintetizar em sensíveis expressões, segundo Chevalier (2021), “as influências do inconsciente e da consciência, bem como das forças instintivas, espirituais em conflito ou em vias de se harmonizar no interior de cada homem.”[21]
E ao considerar o caráter reflexivo da obra, o poeta inaugura e perpetua movimentos que cantam a beleza dos encontros entre razão e poesia, das conexões entre o humano e o transcendente, do retorno ao essencial e à simplicidade, imagens disponíveis ao contemplativo olhar nas cores, linhas, superfícies, formas, volumes, luzes e sons. É uma literatura, que ao rememorar Blanchot (2011), encontra-se vinculada “a uma fala que não pode interromper-se porque ela não fala, ela é. O poeta é aquele que ouviu essa fala, que fez dela o intérprete, o mediador, que lhe impôs o silêncio, pronunciando-a.”[22]
Silêncio descortina os segredos do pensamento como harmonia universal, os véus que separam o visível do invisível, o fértil vazio que sustenta todas as coisas, em uma visão holística do micro e macrocosmos: “A estrela. Uma floresta. A Lua. Um mar aberto. Deus e a pedra. A nebulosa e a formiga. A interlíngua do silêncio universal.”
Abre clareiras no denso emaranhado do tempo e do espaço, na força das palavras, revelando o silêncio criador, a ecoar metáforas que, ao desafiarem o pensamento linear, encorajam o explorar de abstratas e intuitivas dimensões: “Silêncio. Da dialética ao diálogo, da comunicação à comunhão. Eros que se enamora de um Tu infinito.”
Explora a dual natureza da linguagem em seu caráter construtivo ou destrutivo, reflexo do processo histórico e das forças culturais que a moldam. Depende do contexto e da interpretação individual e coletiva, carregando consigo os ecos de disputas ideológicas e de valores: “Não é unívoco, irreversível. Tesouro de paz ou butim de guerra. Não fere e não desarma. Tão incapaz de vida e de morte.”
Nos silenciosos instantes de leitura dessa importante obra à renovação do ser, o corpo repousa e o pensamento flutua diante dos símbolos que se revelam, ora em rompimento, ora em união, ao atravessar, provar e sentir, sem, contudo, desvendar diversos mistérios dessa enigmática composição poética.
Deve, por isso, permanecer ao alcance das mãos como um precioso guia a ser percorrido e partilhado com o outro, sazonalmente, em nome de se reencontrar com diferentes e atualizados tons de esperança, representados, provavelmente, no final da obra pelo símbolo final: 50. - - -. [23],
[1] STRAVINSKY, Igor. Sinfonia em três movimentos. Disponível em: https://filarmonica.art.br/educacional/obras-e-compositores/obra/stravinsky-sinfonia-em-tres-movimentos/
[2] Segundo o google tradutor, do grego: “Esqueça tudo”. Disponível em: https://www.google.com/search?q=google+tradutor&oq=go&aqs=chrome.0.69i59l2j69i57j46i131i199i433i465i512j0i433i512l3j0i512j0i433i512l2.4075j0j15&sourceid=chrome&ie=UTF-8
[3] LUCCHESI, Marco. Silêncio. Editora Litteralux: Guaratinguetá, 2024, p. 09.
[4] HELLER, Alberto Andrés. John Cage e a poética do silêncio. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/91918
[5] BACHELARD, Gaston. A Poética do Espaço. Editora Martins Fontes: São Paulo, 2003, p. 187.
[6] IBIDEM, p. 30.
[7] PAZ, Octavio. O Arco e a lira. Editora Nova Fronteira S/A: Rio de Janeiro, 1982, p.71.
[8] Ibidem, p. 41.
[9] Ibidem, p. 42.
[10] Ibidem, p. 47.
[11] Ibidem, p. 51.
[12] Ibidem, p. 65.
[13] Ibidem, p. 46.
[14] DELEUZE, Gilles. Nietzsche e a Filosofia. Editora Rio: Rio de Janeiro, 1976, 1.ª edição brasileira.
[15] Ibidem, p. 67. Tradução aproximada de Aφελε παντα, em “Deixe tudo”. Disponível em: https://www.google.com/search?q=Traduzir+A%CF%86%CE%B5%CE%BB%CE%B5+%09%CF%80%CE%B1
[16] PINHEIRO, Letícia Machado. Pressupostos Kantianos da Disposição Originária para o Bem. Disponível em: https://periodicos.puc-campinas.edu.br/phronesis/article/view/13986
[17] Ibidem, pág. 88.
[18] Ibidem, p. 91.
[19] SILVA, Maycon Renan da. Eu e Tu Como Proposta Dialógica em Martin Buber. Disponível em: https://periodicos.ufs.br/prometeus/article/view/11903
[20] LUCCHESI, Marco. Nove Cartas sobre a Divina Comédia. Bazar do Tempo: Rio de Janeiro, 2021, p. 120-121.
[21] RIBEIRO, Emilio Soares. Um estudo sobre o símbolo, com base na semiótica de Peirce. Disponível em: https://revistas.usp.br/esse/article/view/49258
[22] BLANCHOT, Maurice. O Espaço Literário. Editora Rocco Ltda.: Rio de Janeiro, 2011, p.29.
[23] Ibidem, p. 91.
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Referências
BACHELARD, Gaston. A Poética do Espaço. Editora Martins Fontes: São Paulo, 2003, p. 187.
BLANCHOT, Maurice. O Espaço Literário. Editora Rocco Ltda.: Rio de Janeiro, 2011, p.29.
DELEUZE, Gilles. Nietzsche e a Filosofia. Editora Rio: Rio de Janeiro, 1976, 1.ª edição brasileira.
HELLER, Alberto Andrés. John Cage e a poética do silêncio. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/91918
LUCCHESI, Marco. Silêncio. Editora Litteralux: Guaratinguetá, 2024, p. 09.
LUCCHESI, Marco. Nove Cartas sobre a Divina Comédia. Bazar do Tempo: Rio de Janeiro, 2021, p. 120-121.
PAZ, Octavio. O Arco e a lira. Editora Nova Fronteira S/A: Rio de Janeiro, 1982, p. 71.
PINHEIRO, Letícia Machado. Pressupostos Kantianos da Disposição Originária para o Bem. Disponível em: https://periodicos.puc-campinas.edu.br/phronesis/article/view/13986
QUINTELA, Paulo. Hölderlin Poemas. Edições Rocio: Lisboa, 2020, p. 53. Disponível em: https://docs.google.com/document/d/1zyXnmzsLhHKmuMaIwzQS1XqxASgJJ5pTk_DffeYsYbU/edit?tab=t.0
RIBEIRO, Emilio Soares. Um estudo sobre o símbolo, com base na semiótica de Peirce. Disponível em: https://revistas.usp.br/esse/article/view/49258
SILVA, Maycon Renan da. Eu e Tu Como Proposta Dialógica em Martin Buber. Disponível em: https://periodicos.ufs.br/prometeus/article/view/11903
STRAVINSKY, Igor. Sinfonia em três movimentos. Disponível em: https://filarmonica.art.br/educacional/obras-e-compositores/obra/stravinsky-sinfonia-em-tres-movimentos/
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