v. 4 n. 2 (2015): Julho-Dezembro
Editorial RGSS Vol.4, N.2 – 2015
Com as alterações decorrentes da situação econômica brasileira e da recente desvalorização cambial, a busca pelo melhor desempenho tanto do setor de saúde pública como do setor privado deverá influenciar fortemente o planejamento e ações promovendo a implantação de novos modelos de gestão, como resposta às falhas e lacunas do atendimento no Sistema Único de Saúde (SUS), ao mesmo tempo em que enfrenta grandes desafios como aumento da demanda da assistência em saúde da população, com recursos cada vez mais escassos.
Segundo Oliveira (2010) o governo deve gerenciar a rede de atores e que estes, por sua vez, devem se comunicar e dividir responsabilidades. A governança pública vem como uma continuidade do modelo da administração pública gerencial, focada em eficácia. Contudo, é proposta uma nova forma de atingir esses resultados: a interação entre diversos atores sociais, que devem se unir para enfrentar as ações sociais segundo os preceitos da flexibilidade, da visão estratégica, da transparência e da comunicação (Prats I Catalá, 2005, como citado por Oliveira, 2010).
Com base neste cenário, a Revista Gestão em Sistemas de Saúde, apresenta o trabalho de Nunes e Harfouche (2015) que aborda de maneira fluida e contínua uma revisão histórica sobre a experiência portuguesa na reforma da Administração Pública aplicada ao setor da saúde, com enfoque ao que ocorreu no país nos hospitais públicos portugueses, com vista a ganhos de eficiência no setor, visando o controle de custos, mantendo os níveis padrão de qualidade e fomentando o desempenho na produção hospitalar.
No âmbito da Administração Pública, a qualidade também está ligada à obtenção dos melhores resultados, com economicidade e maior satisfação do cidadão. A qualidade, vista como uma forma de atuação eficiente da Administração Pública, voltada para um bom desempenho, tem uma forte conexão com o conceito de governança pública (Oliveira, 2010).
A qualidade, um dos tópicos em foco desta edição envolve praticamente todo o segmento saúde nos diferentes níveis de atenção. A procura crescente pela qualidade e pela certificação de excelência junto a empresas especializadas nacionais e internacionais no pais revela uma nova ótica dos gestores em saúde que vem se utilizando cada vez mais de indicadores de qualidade para avaliar as organizações de saúde se distinguir no mercado. Um modo das instituições de saúde se diferenciarem tem sido a escolha de um nicho de atuação.
Nessa perspectiva, levando-se em conta a mudança da pirâmide populacional brasileira, que de acordo com Inouye, Pedrazzani e Pavarini (2008), o Brasil é um país que envelhece a passos largos. As alterações na dinâmica populacional são claras, inequívocas e irreversíveis, sendo que num intervalo de 25 anos (1980 a 2005), o crescimento da população idosa foi de 126,3%, ao passo que o crescimento da população total foi de apenas 55,3%. Nesse mesmo intervalo, o segmento de 80 anos a mais cresceu a um ritmo relativamente maior do que a população idosa total, apresentando um crescimento de 246,0%. Hoje, a faixa etária de 80 anos a mais é composta por 2.935.585 pessoas, representando 14% da população idosa brasileira (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [IBGE], 2011). Consequentemente, vários serviços de saúde, notadamente os hospitalares tem se dedicado à especialização no cuidado aos idosos surgindo serviços e profissionais especializados no cuidado de idosos.
Desta feita, Küchemann (2012) reportou que o trabalho do cuidado aos/às idosos/as deve ser encarado tanto do ponto de vista da pessoa que recebe cuidados, como da pessoa que cuida. Deve contemplar não somente a qualidade dos serviços oferecidos aos/às idosos/as por seus familiares, como também o impacto que as tarefas do cuidado têm na qualidade de vida dos/as cuidadores/as familiares. Assim sendo, tanto os cuidados quanto os/as cuidadores/as familiares deverão ser objeto de políticas e programas de saúde pública em parceria com inúmeras outras políticas públicas. É fundamental que o Estado brasileiro garanta uma infraestrutura de serviços em vários âmbitos de atuação das políticas públicas, favorecendo a todo um conjunto de medidas que possam garantir o bem estar dos/as idosos/as e o exercício de sua cidadania.
O trabalho elaborado por Piva e Silva (2015) segue essa vertente tão atual, e é apresentado nesta edição com o propósito de compreender os níveis de qualidade de vida no trabalho de uma equipe multiprofissional em uma instituição de longa permanência para idosos, a fim de entender se o ambiente de trabalho pode influenciar na qualidade de vida dos profissionais, podendo desencadear estresse, irritabilidade e desmotivação, buscando ao mesmo tempo soluções para que estas condições não interfiram na vida e no trabalho, neste ambiente de extrema importância para a vida humana.
A equipe editorial da RGSS espera que os leitores façam uma reflexão sobre os tópicos abordados e outras propostas e resultados de trabalhos de interesse multidisciplinar na gestão em saúde.
Referências Bibliográficas
Inouye, K., Pedrazzani, E. S., & Pavarini, S. C. I. (2008). Octogenários e cuidadores: perfil sócio-demográfico e correlação da variável qualidade de vida. Texto contexto – Enfermagem, 17(2):350-357.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2011). Sinopse do Senso Demográfico de 2010. Recuperado em 11 de dezembro, 2015, de http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/imprensa/ppts/0000000402.pdf.
Küchemann, B. A. (2012). Envelhecimento populacional, cuidado e cidadania: velhos dilemas e novos desafios. Revista Sociedade e Estado, 27(1): 165-180.
Oliveira, G. J. de (2010). Governança, governabilidade e accountability: qualidade na administração pública. Recuperado em 13 de dezembro, 2015, de https://moodle.unipampa.edu.br/pluginfile.php/128358/mod_resource/content/1/governa%C3%A7a_governabilidade_accountability_qualidade_na_adm_p%C3%BAblica.pdf
Marcia Cristina Zago Novaretti
Editora Científica
Simone Aquino
Editora Adjunta