Entre penalistas e neurocientistas: reflexões sobre a influência de estudos da neurociência sobre o conceito jurídico-penal de culpabilidade

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5585/rtj.v10i2.18147

Palavras-chave:

direito penal, culpabilidade, neurociência

Resumo

O presente estudo aborda as influências da neurociência cognitiva no Direito Penal, mais precisamente no conceito de culpabilidade enquanto elemento do crime. A problemática reside no fato de que, enquanto a dogmática jurídico-penal pressupõe, para a caracterização da culpabilidade e, portanto, do crime, a existência de um sujeito livre, capaz de agir de forma que não a desviante, estudos neurocientíficos apontam o livre-arbítrio como mera ilusão. Diante disso, busca-se verificar em que medida as descobertas da neurociência acerca do livre-arbítrio exercem influência sobre a culpabilidade. Para tanto, aborda-se, de um lado, o entendimento de neurocientistas, que negam a existência do livre-arbítrio, e, de outro, o entendimento de penalistas, que rechaçam a ideia de um ser humano determinado por leis causais.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

João Pedro Gomes Dadda

Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS

Especialista em Direito Penal e Direito Processual Penal pela UNISINOS

Defensor Público do Estado do Rio Grande do Sul

Osório/Rio Grande do Sul

André Olivier, Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS

Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS

Doutor em Filosofia pela UNISINOS

Professor Pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Direito e Coordenador do Curso de Graduação em Direito da UNISINOS

São Leopoldo/Rio Grande do Sul

Referências

ARAÚJO, Fábio Roque da Silva. Culpabilidade, livre-arbítrio e neurodeterminismo: os reflexos jurídico-penais da revolução neurocientífica. Tese (Doutorado em Direito) – Programa de Pós-Graduação em Direito, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2014.

BIGENWALD, Ariane; CHAMBON, Valerian. Criminal responsibility and neuroscience: no revolution yet. Frontiers in Psychology, v. 10, p. 1-19, jun. 2019. Disponível em: https:// www.frontiersin.org/articles/10.3389/fpsyg.2019.01406/full. Acesso em: 4 mar. 2020.

BRITO, Alexis Couto de. Neurociência e livre-arbítrio entre a dogmática penal e a política criminal. In: BUSATO, Paulo César (org.). Neurociência e direito penal. São Paulo: Atlas, 2014. p. 111-142.

BUSATO, Paulo César. Direito penal: parte geral. 3. ed. Rio de Janeiro: Atlas, 2017.

BUSATO, Paulo César. Uma visão crítica das implicações dos estudos neurocientíficos em Direito Penal. In: BUSATO, Paulo César (org.). Neurociência e direito penal. São Paulo: Atlas, 2014. p. 49-82.

CANCIO MELIÁ, Manuel. Psicopatía y derecho penal: algunas consideraciones introductorias. In: CRESPO, Demetrio; CALATAYUD, Manuel Maroto. Neurociencias y derecho penal: nuevas perspectivas en el ámbito de la culpabilidad y tratamiento jurídico-penal de la peligrosidad. Madrid: Edisofer, 2013. p. 529-545.

CARUNCHO, Alexey Choi; CABRAL, Rodrigo Leite Ferreira. A neurociência e as consequências sancionatórias a partir de uma desconsideração da linguagem. In: BUSATO, Paulo César (org.). Neurociência e direito penal. São Paulo: Atlas, 2014. p. 143-164.

CARVALHO, Amilton Bueno de. Direito penal a marteladas: algo sobre Nietzsche e o direito. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2013.

CASTRO, José Roberto Wanderley de; SOUZA, Fernando Antônio C. Alves de. O retorno do discurso determinista no Direito Penal: uma introdução ao debate entre neurociências e dogmática penal. In: BUSATO, Paulo César (org.). Neurociência e direito penal. São Paulo: Atlas, 2014. p. 274-304.

CHORVAT, Terrence; MCCABE, Kevin. The Brain and the Law. Law and economics working paper series: forthcoming in Philosophical Transactions of the Royal Society of London. London: George Mason University School of Law, 2004. Disponível em: http:// www.law.gmu.edu/assets/files/publications/working_papers/04-33.pdf. Acesso em: 7 mar. 2020.

CRESPO, Eduardo Demetrio. “Compatibilismo humanista”: uma proposta de conciliação entre neurociências e direito penal. In: BUSATO, Paulo César (org.). Neurociência e direito penal. São Paulo: Atlas, 2014. p. 17-48.

DIAS, Jorge de Figueiredo. Direito penal: parte geral. Tomo I: questões fundamentais: a doutrina geral do crime. 2. ed. Portugal: Coimbra Editora, 2007.

DIAS, Jorge de Figueiredo. Liberdade, culpa, direito penal. 3. ed. Coimbra: Coimbra, 1995.

ELLIOTT, Donald. Law and biology: the new synthesis? St. Louis University Law Journal, v. 41, n. 2, p. 595-624, 1997. Disponível em: http://digitalcommons.law.yale.edu/cgi/view content.cgi?article=3188&context=fss_papers. Acesso em: 6 mar. 2020.

ERICKSON, Steven K. Blaming the brain. Minnesota Journal of Law, Science & Technology, v. 11, n. 1, p. 27-77, 2010. Disponível em: https://scholarship.law.umn.edu/cgi/ viewcontent.cgi?article=1146&context=mjlst. Acesso em: 8 mar. 2020.

FEIJOO SÁNCHEZ, Bernardo José. Derecho penal y neurociências: ¿una relación tormentosa? Revista para el análisis del Derecho, INDRET, Barcelona, n. 2, p. 1-57, abr. 2011. Disponível em: http://www.indret.com/pdf/806.pdf. Acesso em: 5 set. 2017.

FERRACIOLI, Jéssica. Notas sobre o neurodireito penal e a neurocriminologia. Revista Brasileira de Ciências Criminais, São Paulo, v. 132, a. 25, p. 17-37, jun. 2017.

FERRAJOLI, Luigi. Direito e razão: teoria do garantismo penal. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002.

FLORÊNCIO FILHO, Marco Aurélio. Culpabilidade: crítica à presunção absoluta do conhecimento da lei penal. São Paulo: Saraiva, 2017.

FISCHBORN, Marcelo. Libet-style experiments, neuroscience, and libertarian free will. Philosophical Psychology, v. 29, n, 4, p. 494-502, 2016. Disponível em: https://www.tandf online.com/doi/full/10.1080/09515089.2016.1141399. Acesso em: 6 mar. 2020.

GORGA, Maria Luiza; MARCHIONI, Guilherme Lobo. Liberdade da vontade, neurociência e culpabilidade. Revista Brasileira de Ciências Criminais, São Paulo, v. 114, a. 23, p. 99-129, maio/jun. 2015.

GREENE, Joshua; COHEN, Jonathan. For the law, neuroscience changes nothing and everything. Philosophical Transactions of the Royal Society of London B, Special Issue on Law and the Brain, v. 359, p. 1775-1785, nov. 2004. Disponível em: http://rstb.royalsociety publishing.org/content/359/1451/1775.full.pdf+html. Acesso em: 20 ago. 2017.

GUARAGNI, Fábio André; GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Neurociência, livre-arbítrio e Direito Penal: precipitação científica e alternativas para sustentação da culpabilidade. In: BUSATO, Paulo César (org.). Neurociência e direito penal. São Paulo: Atlas, 2014. p. 165-214.

GÜNTHER, Klaus. Neurociências e o conceito de culpabilidade no direito penal. Tradução de Rodrigo Leite Ferreira Cabral, Paulo César Busato e Letícia da Lozzo. Revista Direitos Fundamentais e Democracia, Curitiba, v. 24, n. 3, p. 226-249, set./dez. 2019. Disponível em: https://revistaeletronicardfd.unibrasil.com.br/index.php/rdfd/article/view/1760/637. Acesso em: 15 mar. 2020.

HASSEMER, Winfried. Neurociências e culpabilidade em direito penal. Tradução de Helena Regina Lobo da Costa. Revista Brasileira de Ciências Criminais, São Paulo, v. 100, a. 21, p. 211-225, jan./fev. 2013.

JONES, Owen D. et al. Law and Neuroscience. The Journal of Neuroscience, v. 33, n. 45, p. 17624-17630, nov. 2013. Disponível em: http://www.jneurosci.org/content/33/45/17624.full. pdf+html. Acesso em: 7 mar. 2020.

JUNCAL, Regina Geni Amorim. A medida de segurança como a pior opção: por que os neurocientistas não devem dizer sobre como punir? Revista Brasileira de Ciências Criminais, São Paulo, v. 130, a. 25, p. 399-426, abr. 2017.

LIBET, Benjamin. Do we have free will? In: LIBET, Benjamin; FREEMAN, Anthony; SYTHERLAND, Keith (ed.). The Volitional Brain: Towards a neuroscience of free will. Thorverten: Imprint Academic, 1999. p. 47-57.

MACKINTOSH, Nicholas (coord.). Brain waves module 4: neuroscience and the law. Londres: The Royal Society, 2011. Disponível em: https://royalsociety.org/~/media/Royal_ Society_Content/policy/projects/brain-waves/Brain-Waves-4.pdf. Acesso em: 11 fev. 2020.

MAOZ, Uri et al. Neural precursors of decisions that matter: an ERP study of deliberate and arbitrary choice. eLife Sciences Publications, Cambridge, p. 1-32, out. 2019. Disponível em: https://elifesciences.org/articles/39787. Acesso em: 18 fev. 2020.

MELLO, Sebástian Borges de Albuquerque. Culpabilidade e neurociências: entre problemas reais e imaginários. In: BUSATO, Paulo César (org.). Neurociência e direito penal. São Paulo: Atlas, 2014. p. 83-110.

MONIZ, Helena. Neurociências e direito penal: novos e velhos problemas. Revista Jurídica luso-Brasileira, Lisboa, n. 2, a. 1, p. 911-928, 2015. Disponível em: http://www.cidp.pt/ revistas/rjlb/2015/2/2015_02_0911_0928.pdf. Acesso em: 29 fev. 2020.

OLIVEIRA, Eugênio Pacceli de; CALLEGARI, André. Manual de direito penal: parte geral. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2017.

PACHECO FILHO, Vilmar Velho. A crise da culpabilidade. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2009.

REES, Geraint Rees. The scope and limits of neuroimaging. In: BLAKEMORE, Colin (coord.). Brain waves module 1: neuroscience, society and policy. Londres: The Royal Society, 2011. p. 7-17. Disponível em: https://royalsociety.org/-/media/Royal_Society_ Content/policy/publications/2011/4294974932.pdf. Acesso em: 18 fev. 2020.

ROSKIES, Adina; NAHMIAS, Eddy. “Local determination”, even if we could find it, does not challenge free will: commentary on Marcelo Fischborn. Philosophical Psychology, v. 30, n, 1-2, p. 185-197, 2017. Disponível em: https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/ 09515089.2016.1248286. Acesso em: 6 mar. 2020.

ROXIN, Claus. Derecho penal: parte general. Madrid: Civitas, 2003.

ROXIN, Claus. Estudos de direito penal. Tradução de Luís Greco. Rio de Janeiro: Renovar, 2006.

SANT’ANNA, Marina de Cerqueira. Neurociências e culpabilidade. Florianópolis: Empório do Direito, 2015.

SANTOS, Juarez Cirino dos. Direito penal: parte geral. 4. ed. Florianópolis: Conceito Editorial, 2010.

SILVA, Sandra Oliveira e. It’s all in your head? – a utilização probatória de métodos neurocientíficos no processo penal. Revista Eletrônica de Direito Processual, Rio de Janeiro, v. 20, n. 1, a. 13, p. 477-512, jan./abr. 2019. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/redp/article/view/42215/29262. Acesso em: 15 mar. 2020.

SINGER, Wolf. A determinist view of brain, mind and consciousness. In: BLAKEMORE, Colin (coord.). Brain waves module 1: neuroscience, society and policy. Londres: The Royal Society, 2011. p. 41-78. Disponível em: https://royalsociety.org/-/media/Royal_Society_ Content/policy/publications/2011/4294974932.pdf. Acesso em: 18 fev. 2020.

TANGERINO, Davi de Paiva Costa. Culpabilidade. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2014.

WELZEL, Hans. O novo sistema jurídico-penal: uma introdução à doutrina da ação finalista. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001.

ZAFFARONI, Eugenio Raúl; PIERANGELI; José Henrique. Manual de direito penal brasileiro: parte geral. 10. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013.

Downloads

Publicado

2021-12-23

Como Citar

DADDA, João Pedro Gomes; OLIVIER, André. Entre penalistas e neurocientistas: reflexões sobre a influência de estudos da neurociência sobre o conceito jurídico-penal de culpabilidade. Revista Thesis Juris, [S. l.], v. 10, n. 2, p. 253–279, 2021. DOI: 10.5585/rtj.v10i2.18147. Disponível em: https://periodicos.uninove.br/thesisjuris/article/view/18147. Acesso em: 6 out. 2024.

Edição

Seção

Artigos