As meias verdades da reforma do ensino médio

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5585/eccos.n63.22808

Palavras-chave:

educação, ensino médio, juventude, reforma da educação.

Resumo

As justificativas apresentadas para a reforma do Ensino Médio ancoram-se em meias verdades sobre a insatisfação dos jovens em relação à qualidade e ao sentido desse nível da educação básica para suas vidas. Este artigo, a partir de documentação referente à reforma e de literatura pertinente, analisa essas justificativas e demonstra que suas intencionalidades definem as respostas e as conclusões às quais a sociedade deve chegar. Tais justificativas são destituídas, de forma intencional, de análises científicas especializadas sobre a materialização efetiva dessa última etapa da educação básica. Para consolidar a retórica reformista, foi fundamental o silenciamento do pensamento divergente e o apoio da mídia. Os reformadores não quiseram ouvir os sujeitos que vivenciam a escola e nem escutar o que os jovens desejam de suas escolas ou os professores sobre as suas condições para efetivar um Ensino Médio de qualidade e atrativo aos jovens estudantes. Sua retórica, politicamente estruturada a partir de meias verdades e do desprezo da produção acadêmica, intenciona promover sua aceitação pública, efetivando retrocessos na oferta de Ensino Médio nas escolas públicas brasileiras.  A dualidade reafirma-se sob o discurso de uma nova estrutura educacional, de um novo currículo, de um novo papel que a juventude passa a ter na definição de seus projetos de vida. 

 

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Biografia do Autor

Ramon de Oliveira, Universidade Federal de Pernambuco – UFPE

Doutor em educação. Professor do Programa de Pós-Graduaçãop em Educaçã - UFPE . Bolsista PQ CNPQ.

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Publicado

22.12.2022

Como Citar

DE OLIVEIRA, Ramon. As meias verdades da reforma do ensino médio. EccoS – Revista Científica, [S. l.], n. 63, p. e22808, 2022. DOI: 10.5585/eccos.n63.22808. Disponível em: https://periodicos.uninove.br/eccos/article/view/22808. Acesso em: 24 maio. 2025.
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