Apontamentos sobre a epistemologia circular dos blocos afrocarnavalescos de Salvador

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5585/eccos.n64.24023

Palavras-chave:

afoxés, blocos afros, carnaval, circularidade, epistemologia.

Resumo

Ao conceber o espaço do carnaval a partir das suas tensões socioeconômicas, políticas e culturais internas, a população negra de Salvador (BA) vem, desde a segunda metade do século XIX, elaborando formas de divertimentos que, para além do entretenimento, tanto denunciam a exclusão étnico-racial quanto anunciam possibilidades antirracistas de organização social. Tomando como base empírica o contexto do carnaval soteropolitano e como aporte teórico as contribuições de Paulo Freire e de outros autores do pensamento crítico brasileiro, este artigo examina como a dialética contida na relação denúncia/anúncio, expressas nas práticas comunitário-carnavalescas, constituiu uma epistemologia circular de natureza crítica e transformadora, indispensável às práxis pedagógicas de dois importantes fenômenos culturais afro-baianos, os afoxés e os blocos afros. Nesse sentido, foi possível constatar que a partir das bandas, dos ensaios, dos temas, dos festivais de música, dos festivais de beleza negra e da estética afrorreferenciada, das fantasias, das ações sociais e das escolas, principais elementos componentes da práxis afrocarnavalesca, saberes e valores são organicamente produzidos pelo conjunto entidades/comunidades/foliões(ãs), constituindo uma epistemologia de natureza nitidamente circular.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

José Walter Silva e Silva, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí – IFPI.

Doutor em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Nove de Julho (2022), Mestre em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Nove de Julho (2018), especialista em Metodologia do Ensino Superior pelo Centro de Pós-Graduação Olga Mettig (1998) e graduado em Economia pela Faculdade Católica de Ciências Econômicas da Bahia (1995). É servidor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba (IFPB), cedido em cooperação técnica pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí (IFPI), onde atuou como professor desde o ano de 2010. Nesta mesma instituição foi coordenador de extensão do campus Corrente, vice-coordenador e coordenador do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígena e diretor geral do campus São João do Piauí, entre os anos de 2013 e 2019. Na área do Crescimento e Desenvolvimento Econômico realizou trabalhos voltados para o segmento da Indústria da Construção. Na cultura, realizou diversas atividades relacionadas com a produção e a gestão de blocos afros e afoxés. Foi vice-presidente do afoxé Filhos do Congo, assessorou o bloco afro Malê Debalê e foi conselheiro da Associação dos Afoxés da Bahia (Asaba). É membro do Grupo de Pesquisa do CNPq "Ylê-Educare: educação e questões étnico-raciais" e do Observatório dos Quilombos do Piauí.

Jason Ferreira Mafra, Universidade Nove de Julho – Uninove.

Doutor (2007) e mestre (2001) em Educação pela Universidade de São Paulo (USP). Graduado e licenciado em História pela Unisal. Desenvolveu, no doutorado, estudo sobre o conceito de conectividade em Paulo Freire. Tem experiência docente nas redes pública e privada, da Educação Básica e Superior, lecionando, pesquisando e orientando temas relacionados à Metodologia da Pesquisa, teoria e práxis freiriana; etnorracialidade e educação. É docente do Programa de Pós-Graduação (mestrado e doutorado) em Educação da Universidade Nove de Julho (PPGE-UNNOVE) e Diretor do Programa de Mestrado Profissional em Gestão e Práticas educacionais (PROGEPE) na mesma universidade. Desenvolve e orienta pesquisas nas linhas Metodologia da Aprendizagem e Práticas de Ensino (LIMAPE); Educação Popular e Culturas (LIPECULT). É membro do Conselho Internacional de Assessores do Instituto Paulo Freire, onde coordenou, de 2000 a 2010, a Universitas Paulo Freire (UNIFREIRE). É autor de obras para o Ensino de História, na Educação Básica, e de livros e artigos científicos em Educação. Dentre outros livros publicou: Paulo Freire, contribuiciones para la pedagogía,(Clacso, 2005); Valores e diálogos para uma cidade educadora (2010), História (4 volumes, para Educação de Jovens e Adultos); Jean-Ovide Decroly (2010) e Bogdan Suchodolski (2010), livros da Coleção Educadores, do MEC; Universidade Popular: teorias, práticas e perspectivas (Liber Livro, Instituto Paulo Freire, 2013); A ditadura espelhada (Liberlivro, 2014); Paulo Freire, um menino conectivo (Liberlivro, 2016), Paulo Freire e a educação das crianças.(2020), Educação: a importância do ato de reler. (2019). É um dos organizadores do livro Pedagogia do oprimido: o manuscrito (Liber Livro, Instituto Paulo Freire). Entre os projetos em que atuou como pesquisador, destacam-se: 1) Observatório da Educação (Obeduc): Universidade Popular no Brasil, financiado pela CAPES; 2) Programa Marco Interuniversitario Para La Equidad Y La Cohesión Social De Las Instituciones de Educación Superior En America Latina, Riaipe 3, no âmbito do Programa Alfa III, financiado pela Comissão Europeia para a cooperação exterior. É líder do Grupo de Pesquisa do CNPq "Ylê-Educare: educação e questões étnico-raciais".

Referências

ALENCAR, Itana. “Não é só título de empoderamento, é social”, diz Paula Marinho, eleita Rainha do Muzenza para carnaval de 2020. G1, 2020. Disponível em: https://g1.globo.com/ba/bahia/carnaval/2020/noticia/2020/02/17/nao-e-titulo-de- empoderamento-e-um-titulo-social-diz-paula-marinho-eleita-rainha-do-muzenza-para- carnaval-de-2020.ghtml. Acesso em: 17 dez. 2021.

CORTEJO AFRO. Histórico. 2021. Disponível em: http://www.cortejoafro.com.br/historico/. Acesso em: 18 dez. 2021.

DAVEL, Eduardo; ROSA, Renata Saback. Gestão, cultura e consumo simbólico no Cortejo Afro. RPCA, Rio de Janeiro, Edição Especial, p.13-30, ago. 2017.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 62. ed. Rio de Janeiro/São Paulo: Paz e Terra, 2019 [1996].

FREIRE, Paulo; FAUNDEZ, Antonio. Por uma pedagogia da pergunta. 4. ed. Rio de Janeiro/São Paulo: Paz e Terra, 1998. (Coleção Educação e Comunicação; v. 15) [1985].

FREIRE, Paulo; SHOR, Ira. Medo e ousadia, o cotidiano do professor. 14. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2021 [1987].

GOMES, Nilma Lino. O movimento negro educador: saberes construídos nas lutas por emancipação. Petrópolis: Vozes, 2017.

GONÇALVES, Gabriela da Costa. Bloco Afro Ilê Aiyê elege a “Deusa do Ébano” 2019. Fundação Palmares, 2019. Disponível em: https://www.palmares.gov.br/?p=53443. Acesso em: 17 dez. 2021.

GUERREIRO, Goli. A trama dos tambores: a música afro-pop de Salvador. 2. ed. São Paulo: Editora 34, 2010. (Coleção Todos os Cantos).

ITAÚ CULTURAL. Ocupação Ilê Aiyê. São Paulo: Itaú Cultural. 2018. Disponível em: https://issuu.com/itaucultural/docs/il aiy publicacao_issu. Acesso em: 18 de fev. 2021.

KRONBAUER, Luís Gilberto. Ação-reflexão. In: STRECK, Danilo R.; REDIN, Euclides; ZITKOSKI, Jaime José. Dicionário Paulo Freire. 4. ed. ver. amp. Belo Horizonte: Autêntica, 2019.

OLIVEIRA, Vânia Silva. Ara-Ítàn: a dança de uma rainha, de um carnaval e de uma mulher. 2016. 182 f.: il. Dissertação (Mestrado) - Escola de Dança, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2016.

SANTOS, Antônio Bispo dos. Colonização, quilombos: modos e significações. 2. ed. rev. ampl. Brasília: Ayô, 2019.

SILVA, José Walter Silva e. A consciência que vem do tambor: uma leitura freiriana sobre a pedagogia afrocarnavalesca de Salvador. 2022. 571 f. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Nove de Julho, São Paulo, 2022.

SECULT. Carnaval da Cultura traz riqueza dos blocos afro e diversidade do Pelô. 2020. Disponível em: http://www.cultura.ba.gov.br/2020/02/17404/Carnaval-da- Cultura-traz-riqueza-dos-blocos-afro-e-diversidade-do-Pelo.html. Acesso em: 12 dez. 2021 (matéria publicada em 14 fev. 2020).

Downloads

Publicado

17.03.2023

Como Citar

SILVA E SILVA, José Walter; FERREIRA MAFRA, Jason. Apontamentos sobre a epistemologia circular dos blocos afrocarnavalescos de Salvador. EccoS – Revista Científica, [S. l.], n. 64, p. e24023, 2023. DOI: 10.5585/eccos.n64.24023. Disponível em: https://periodicos.uninove.br/eccos/article/view/24023. Acesso em: 19 abr. 2024.

Edição

Seção

Artigos