Consumo e distinção social no campo cultural da música

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5585/remark.v20i4.17619

Palavras-chave:

Consumo de status, Gosto musical, Homologia, Onívoro cultural, Distinção de classe,

Resumo

Objetivo: Este estudo tem por objetivo identificar padrões de consumo e de gosto no campo cultural da música no Brasil e caracterizar a influência de variáveis sociodemográficas.

Método: Foi utilizada a abordagem quantitativa: 1.168 pessoas foram consultadas por meio da aplicação de questionários semiestruturados em três cidades do estado de Minas Gerais: Belo Horizonte, Juiz de Fora e Lavras. Para análise dos dados, foi utilizada a Análise de Correspondência Múltipla (MCA).

Relevância/Originalidade: O entendimento dos mecanismos e das consequências sociais do consumo de status tem sido o centro de um rico debate teórico. No entanto, estudiosos tem apontado a necessidade de mais pesquisas, visto que os dados empíricos são extraídos quase que exclusivamente em países europeus ou nos Estados Unidos. Portanto, este estudo pode contribuir ao suprir parte da lacuna teórica e gerar dados para a compreensão dos padrões de gosto e consumo musical em um país em desenvolvimento.

Principais Resultados: A MCA confirmou a existência de uma acentuada divisão entre o gosto por gêneros musicais culturalmente legitimados e gêneros musicais populares, sendo essas diferenças operadas, especialmente, pela escolaridade e capital cultural dos indivíduos. Apenas 4,5% dos respondentes foram classificados como onívoros. Desta forma, defende-se que, embora muitos estudiosos encontrem evidências da teoria do onívoro cultural, é por meio da homologia e do gosto esnobe que as diferenças de gosto musicais, no contexto estudado, são melhor explicadas.

Contribuições Teóricas/Metodológicas: As informações podem ser valiosas para os acadêmicos aprofundarem seus estudos ou elaborarem novas questões de pesquisa, abrindo espaço também para a comparação entre diferentes regiões e países. Este estudo também gera insights para o refinamento de análises e classificações referentes aos conceitos de capital cultural e ao onívoro cultural, e aponta para o papel central do consumo de status nos gostos musicais no contexto brasileiro.

Biografia do Autor

Aline Pereira Sales Morel, Instituto Federal do Sul de Minas – IFSULDEMINAS

Doutora em Administração

Daniel Carvalho de Rezende, Universidade Federal de Lavras – UFLA

Doutor em Ciências Sociais

Alessandro Silva de Oliveira, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS

Doutor em Administração

Referências

Alonso, G. (2017, 15 de dezembro). Sertanejo é a face recente da antropofagia das massas. Folha de São Paulo. http://arte.folha.uol.com.br/ilustrada/2017/musica-muito-popular-brasileira/entenda/

Atkinson, W. (2011). The context and genesis of musical tastes: Omnivorousness debunked, Bourdieu buttressed. Poetics, 39(3), 169-186.https://doi.org/10.1016/j.poetic.2011.03.002

Bachmayer, T., Wilterdink, N., & van Venrooij, A. (2014). Taste differentiation and hierarchization within popular culture: The case of salsa music. Poetics, 47, 60-82.http://dx.doi.org/10.1016/j.poetic.2014.10.004

Bennett, T., Savage, M., Silva, E.B., Warde, A., Gayo-Cal, M., & Wright, D. (2009). Class, Culture, Distinction. Routledge.

Benzecry, C., & Collins, R. (2014). The High of Cultural Experience: Toward a Microsociology of Cultural Consumption. Sociological Theory, 32(4), 307-326. https://doi.org/10.1177/0735275114558944

Bourdieu, P. (1984) Distinction. Routledge.

Chan, T. W., &Goldthorpe, J. H. (2007). Social stratification and cultural consumption: Music in England. European Sociological Review, 23(1), 1-19.https://doi.org/10.1093/esr/jcl016

Costa Filho, C. G. da. (2016). Capital cultural e o consumo de status na classe média brasileira. [Tese de doutorado, Universidade Federal de Lavras].http://repositorio.ufla.br/bitstream/1/11023/1/TESE_Capital%20cultural%20e%20consumo%20de%20status%20na%20classe%20m%c3%a9dia%20brasileira.pdf

Coulangeon, P. (2015). Social mobility and musical tastes: A reappraisal of the social meaning taste eclecticism. Poetics, 51, 54-68.http://dx.doi.org/10.1016/j.poetic.2015.05

Coulangeon, P., &Lemel, Y. (2007). Is 'distinction' really outdated? Questioning the meaning of the omnivorization of musical taste in contemporary France. Poetics, 35(2-3), 93-111.https://doi.org/10.1016/j.poetic.2007.03.006

Eckhardt, G. M. &Bardhi, F. (2020) New dynamics of social status and distinction. Marketing Theory, 20(1), 85-102. https://doi.org/10.1177/1470593119856650

Eckhardt, G. M., Belk, R. W. & Wilson, J. A. J. (2015) The rise of inconspicuous consumption. Journal of Marketing Management, 31(7-8), 807-826. https://doi.org/10.1080/0267257X.2014.989890

Forastieri, A. (2014, 07 de abril). Lollapalooza 2014: o rock morreu – e seu futuro é selvagem. R7.com. http://noticias.r7.com/blogs/andre-forastieri/2014/04/07/lollapalooza-2014-o-rock-morreu-e-seu-futuro-e-selvagem/

Fuentes, C., Hagberg, J. &Kjellberg, H. (2019). Sound tracking: music listening practices in the digital age. European Journal of Marketing, 53(3), 483-503. https://doi.org/10.1108/EJM-10-2017-0753

García-Álvarez, E., Katz-Gerro, T., & López-Sintas, J. (2007). Deconstructing cultural omnivorousness 1982-2002: Heterology in Americans' musical preferences. Social Forces, 86(2), 417-443.https://www.jstor.org/stable/20430748

Goldthorpe, J. H. (2007). Onsociology: Numbers, narratives, and the integration of research and theory. Oxford University Press.

Graham, R. (2011). Jazz Consumption Among African Americans from 1982 to 2008. Journal of Black Studies, 42(6), 993-1018. https://doi.org/10.1177/0021934711400602

Greenacre, M. J. (1991). Interpreting multiple correspondence analysis. Applied Stochastic Models and Data Analysis, 7(2), 195-210. https://doi.org/10.1002/asm.3150070208

Gregorio, R. (2017, 15 de dezembro). De Norte a Sul, por que afinal ouvimos tanto o que ouvimos? Folha de São Paulo. https://arte.folha.uol.com.br/ilustrada/2017/musica-muito-popular-brasileira/entenda/

Hair Junior., J. F., Anderson, R. E., Tatham, R. L., & Black, C. W. (2009). Análise Multivariada de Dados (6ª ed.). Bookman.

Herrera-Usagre, M. (2013). Intergenerational transmission of cultural skills and attitudes: adjusting the paradigm of cultural omnivorousness for Andalusia. Revista Internacional de Sociologia, 71(1), 143-167. https://doi.org/10.3989/ris.2011.11.25

Hill, R. (2002). Consumer culture and the culture of poverty: implications for marketing theory and practice. Marketing Theory, 2(3), 273-293. https://doi.org/10.1177/1470593102002003279

Holt, D. (1998). Does cultural capital structure American consumption? Journal of Consumer Research, 25(1), 1-25.https://doi.org/10.1086/209523

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. (2010). Censo 2010. https://censo2010.ibge.gov.br.

Janotti Junior., J., & Pires, V. de A. N. (2011). Entre os afetos e os mercados culturais: as cenas musicais como formas de mediatização dos consumos musicais. In J. S. Janotti Junior., T. R. Lima., & V. de A. N. Pires, (Orgs.). Dez anos a mil: Mídia e Música Popular Massiva em Tempos de Internet (pp. 8-22). Simplíssimo.

Lamont, M. (1992). Money, morals, and manners: the culture of the French and American Upper-Middle Class. University of Chicago Press.

Lash, S. (2002). Critique of information. Sage.

Leguina, A., Arancibia-Carvajal, S., &Widdop, P. (2017). Musical preferences and technologies: contemporary material and symbolic distinctions criticized. Journal of Consumer Culture, 17(2), 242-264. https://doi.org/10.1177/1469540515586870

Macedo, S. B. (2014). As dimensões do consumo da nova classe média e a influência do capital cultural. [Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Lavras]. http://repositorio.ufla.br/bitstream/1/2835/1/DISSERTA%c3%87%c3%83O_As%20dimens%c3%b5es%20do%20consumo%20da%20nova%20classe%20m%c3%a9dia%20e%20a%20influ%c3%aancia%20do%20capital%20cultural.pdf

Magalhães, T., & Sawaia, J. (2013). Tribos musicais. IBOPE Media. http://www.ibope.com.br/ptbr/noticias/Documents/tribos_ musicais.pdf.

Maguire, J. S. (2018) The taste for the particular: a logic of discernment in an age of omnivorousness. Journal of Consumer Culture, 18(1), 3-20. https://doi.org/10.1177/1469540516634416

Mantecón, A. R. (2014). Panorama setorial da cultura brasileira. Allucci & Associados Comunicações.

Peterson, R. A. (2005). Problems in comparative research: The example of omnivorousness. Poetics, 33(5-6), p.257–282. https://doi.org/10.1016/j.poetic.2005.10.002

Peterson, R. A. (1992). Understanding audience segmentation: from elite and mass to omnivore and univore. Poetics, 21(4), 243-258. https://doi.org/10.1016/0304-422X(92)90008-Q

Peterson, R. A., & Kern, R. M. (1996). Changing highbrow taste: from snob to omnivore. American Sociological Review, 61(5), 900-907.https://doi.org/10.2307/2096460

Prahalad, C. K. (2005). A riqueza na base da pirâmide: como erradicar a pobreza com o lucro. Bookman.

Ponte, L. F., & Mattoso, C.Q. (2014) Capital cultural e o consumo de produtos culturais: as estratégias de consumo de status entre mulheres da nova classe média. Revista Brasileira de Marketing -

Remark, 13(6), 18-33. https://doi.org/10.5585/remark.v13i6.2613

Ponte, L. F., & Campos, R. D. (2018) Tastet ransformation in the contextof social mobility. Brazilian Administration Review – BAR, 15(2), 1-18. https://doi.org/10.1590/1807-7692bar2018170100

Santos, F. M. dos., & Abonizio, J. (2010). Um estudo da música popular brasileira como categoria nativa. Anais do Encontro de Pesquisadores em Comunicação e Música Popular, São Luís.

Savage, M., &Gayo, M. (2011). Unravelling the omnivore: A field analysis of contemporary musical taste in the United Kingdom. Poetics, 39(5), 337-357.https://doi.org/10.1016/j.poetic.2011.07.001

Silva, G. O. do V. (1995). Capital Cultural, Classe e Gênero em Bourdieu. Informare – Cadernos do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, 1(2), 24-36. https://ridi.ibict.br/bitstream/123456789/215/1/OlintoSilvaINFORMAREv1n2.pdf

Simmel, G. (1904). Fashion. International Quarterly, 10, 130-155.

Souza, J. (2004). A gramática social da desigualdade brasileira. Revista Brasileira de Ciências Sociais, 19(54), 79-97. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-69092004000100005

Strehlau, S. (2007) Alguns conceitos de Bourdieu e propostas de estudos em Marketing. Anais do XXVI Encontro da Anpand (Enanpad), Salvador.

Tampubolon, G. (2008). Distinction in Britain, 2001-2004? Unpacking homology and the 'aesthetics' of the popular class. European Societies, 10(3), 403-428.https://doi.org/10.1080/14616690701326832

Tanner, J., Asbridge, M., &Wortley, S. (2008). Our favourite melodies: musical consumption and teenage lifestyles. British Journal of Sociology, 59(1), 117-144.https://doi.org/10.1111/j.1468-4446.2007.00185.x

Trotta, F. (2011). Critérios de qualidade na música popular: o caso do samba brasileiro. In J. S. Janotti Junior., T. R. Lima, & V. de A. N. Pires (Orgs.). Dez anos a mil: Mídia e Música Popular Massiva em Tempos de Internet (pp. 116-137). Simplíssimo.

Ustuner, T., & Holt, D.B. (2009). Toward a theory of status consumption in less industrialized countries. Journal of Consumer Research, 37(1), 37-56. https://doi.org/10.1086/649759

Van Poecke, N. (2018). Pure taste in popular music: The social construction of indie-folk as a performance of “poly-purism”. American Journal of Cultural Sociology, 6,499-531. https://doi.org/10.1057/s41290-017-0033-y

Vasconcellos, M.D. (2002). Pierre Bourdieu: a herança sociológica. Educação e Sociedade, 23(78), 77-87. https://doi.org/10.1590/S0101-73302002000200006

Veblen, T. (1980). A teoria da classe ociosa: um estudo econômico das instituições. Abril. (Trabalho original publicado em 1899).

Warde, A. et al. (2005). Understanding cultural omnivorousness, or the myth of the cultural Omnivore. University of Manchester and Open University.

Wilks, L. (2013). Exploring social and cultural diversity within 'black British jazz' audiences. Leisure Studies, 32(4), 349-366.http://dx.doi.org/doi:10.1080/02614367.2012.667820

Downloads

Publicado

29.11.2021

Como Citar

Morel, A. P. S., Rezende, D. C. de, & Oliveira, A. S. de. (2021). Consumo e distinção social no campo cultural da música. ReMark - Revista Brasileira De Marketing, 20(4), 362–392. https://doi.org/10.5585/remark.v20i4.17619

Edição

Seção

Artigos