Reforma do ensino médio e base nacional comum curricular: formas atuais de expressão do capital na educação
DOI:
https://doi.org/10.5585/eccos.n62.23199Palavras-chave:
base nacional comum curricular, itinerários formativos, pedagogia das competências, reforma do ensino médio, trabalho como princípio educativo.Resumo
O golpe de agosto de 2016 teve como consequência, no campo da educação, a retomada de um discurso acerca da necessidade de se reformar o Ensino Médio, com ênfase na necessidade de viabilizar a formação profissional, a empregabilidade e a adequação aos mundos do trabalho. No contexto desse processo, foram produzidas a reforma do Ensino Médio, de 2017, e a definição de uma nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC), em 2018. O processo reformista em curso não é novo e reafirma-se na necessidade de adaptação dos sistemas de ensino às demandas postas pelas transformações do capitalismo, que em razão de sua crise precisa ampliar formas de extração de mais-valia via ampliação da produtividade e precarização do trabalho. A primeira parte do texto apresenta a forma como esse processo expressou diferentes concepções de organização desse nível de ensino: a pedagogia das competências e do aprender a aprender e o trabalho como princípio educativo. Na segunda parte, mostramos as propostas de reorganização da educação de nível médio no contexto dos pós-golpe de 2016, materializada na reforma do Ensino Médio e na BNCC. Na terceira parte do texto analisamos como a ênfase atribuída aos itinerários formativos e à flexibilização curricular concorrem como elementos propiciadores de maior desqualificação do trabalho docente e de ampliação da dualidade estrutural no Ensino Médio, além de inviabilizar a formação integral e ampliar os problemas já presentes nesse nível de ensino.
Downloads
Referências
BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 21 dez. 1996.
BRASIL/MEC. Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Brasília-DF, 1999.
BRASIL/CNE/CEB. Resolução CEB/CNE 04/1999. Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Profissional de Nível Técnico. Brasília-DF, 1999a.
BRASIL//CNE/CEB. Parecer CEB/CNE 16/1999. Estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Profissional de Nível Técnico. Brasília-DF, 1999b.
BRASIL/MEC/SENTEC. Referenciais Curriculares Nacionais da Educação Profissional de Nível Técnico. Brasília-DF, 2000.
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018.
BRASIL/CNE/CEB. Parecer Nº 39/04. Aplicação do Decreto Nº 5.154/2004 na Educação Profissional Técnica de nível médio e no Ensino Médio. Brasília: 2004b. Disponívelem: http://portal.mec.gov.br/setec/arquivos/pdf_legislacao/rede/legisla_rede_parecer392004.pdf. Acesso em: 27 jul. 2016.
BRASIL/CNE/CEB. Resolução Nº 01/05. Atualiza as Diretrizes Curriculares Nacionais definidas pelo Conselho Nacional de Educação para o Ensino Médio e para a Educação Profissional Técnica de nível médio às disposições do Decreto nº 5.154/2004.
BRASIL/CNE/CEB. Parecer nº 11/2008. Proposta de instituição do Catálogo Nacional de Cursos Técnicos de Nível Médio. Brasília – DF, 2008.
BRASIL/CNE/CEB. Resolução nº 3, de 21 de novembro de 2018. Atualiza as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Brasília – DF, 2018.
BRASIL. Decreto Nº 2.208, de 17 de abril de 1997. Regulamenta o § 2 º do art. 36 e os arts. 39 a 42 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília -DF, 1997.
BRASIL. Lei Nº 11.741, de 16 de julho de 2008. Altera dispositivos da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para redimensionar, institucionalizar e integrar as ações da educação profissional técnica de nível médio, da educação de jovens e adultos e da educação profissional e tecnológica. Brasília – DF, 2008.
BRASIL. LEI Nº 13.415, de 16 de fevereiro de 2017. Altera as Leis n º 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, e 11.494, de 20 de junho 2007, que regulamenta o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação, a Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, e o Decreto-Lei nº 236, de 28 de fevereiro de 1967; revoga a Lei nº 11.161, de 5 de agosto de 2005; e institui a Política de Fomento à Implementação de Escolas de Ensino Médio em Tempo Integral. Brasília – DF, 2017.
CEPAL/OREALC. Educación y Conocimiento: eje de la transformación productiva com equidad. Santiago de Chile, 1992.
FERRETTI, Celso J, SILVA Jr., João dos Reis, OLIVEIRA, Maria Rita N. S. (orgs). Trabalho, formação e currículo - para onde vai a escola? São Paulo: Xamã, 1999.
FERRETTI, C. J. A reforma do Ensino Médio e sua questionável concepção de qualidade da educação. Estudos Avançados, São Paulo, v. 32, n. 93, p. 25-42, 2018.
HERNANDES, P. R. A reforma do Ensino Médio e a produção de desigualdades na educação escolar. Educação, Santa Maria, v. 44, p. 1-19, 2019. http://dx.doi.org/10.5902/1984644434731. Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/reveducacao/article/view/34731/pdf. Acesso em: 11 maio 2022.
KUENZER, A. Z. O trabalho como princípio educativo. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n. 68, p. 21-28, fev. 1989.
MAINARDES, Jeferson. Abordagem do ciclo de políticas: uma contribuição para a análise de políticas educacionais. Educ. Soc., Campinas, vol. 27, n. 94, p. 47-69, jan./abr. 2006.
RAMOS, M. N. Ensino médio no Brasil contemporâneo: coerção revestida de consenso no “Estado de exceção”. Revista Nova Paideia: Revista Interdisciplinar em Educação e Pesquisa, Brasília, DF, v. 1, n. 1, p. 2-11, 2019. DOI: 10.36732/riep.v1i1.19. Disponível em: https://ojs.novapaideia.org/index.php/riep/article/view/11. Acesso em: 17 abr. 2021.
RAMOS, M. N.; FRIGOTTO, G. “Resistir é preciso, fazer não é preciso”: as contrarreformas do ensino médio no Brasil. Cadernos de Pesquisa em Educação, Vitória, v. 19, n. 46, p. 2647, 2017. Disponível em: https://periodicos.ufes.br/index.php/educacao/article/view/19329. Acesso em: 18 maio 2021.
RAMOS, M. N.; FRIGOTTO, G. Medida Provisória 746/2016: a contrarreforma do ensino médio do golpe de estado de 31 de agosto de 2016. Revista Histedbr, Campinas, n. 70, p. 30-48, 2016. Disponível em: http://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/histedbr/article/view/8649207/15754. Acesso em: 14 jul. 2021.
RAMOS, M. N.; FRIGOTTO, G.; CIAVATTA, M. (Org.). Ensino Médio Integrado: concepção e contradições. São Paulo: Cortez, 2005.
RAMOS, M. N. Ensino médio no Brasil contemporâneo: coerção revestida de consenso no “estado de exceção”. Revista Nova Paideia - Revista Interdisciplinar em Educação e Pesquisa, [S. l.], v. 1, n. 1, p. 2-11, 2019. Disponível em: https://ojs.novapaideia.org/index.php/RIEP/article/view/11. Acesso em: 6 jun. 2022.
REDE ESCOLA PÚBLICA E UNIVERSIDADE. Novo Ensino Médio e indução de desigualdades escolares na rede estadual de São Paulo [Nota Técnica]. São Paulo: REPU, 02 jun. 2022. Disponível em: www.repu.com.br/notas-tecnicas. Acesos em 05 de julho de 2022.
SÃO PAULO. Seminário Novo Ensino Médio Diretores. São Paulo: Secretaria da Educação do Estado, 2021. Disponível em: https://efape.educacao.sp.gov.br/curriculopaulista/wphttps://efape.educacao.sp.gov.br/curriculopaulista/wp-content/uploads/2021/01/semina%cc%81rio novo ensino me%cc%81dio_diretores de escola.pdf?_t=1614097834content/uploads/2021/01/semina%cc%81rio%20novo%20ensino%20me%cc%81dio_dire tores%20de%20escola.pdf?_t=1614097834. Acesso em: 30 mar. 2021.
SAVIANI, D. Pedagogia histórico-crítica: primeiras aproximações. 7. ed. Campinas: Autores Associados, 2000.
SILVA, Camila Aparecida da. A reforma da educação profissional de nível médio no Brasil: um debate sobre a pedagogia das competências e o trabalho como princípio educativo. Tese (Doutorado) – Universidade Nove de Julho - UNINOVE, São Paulo, 2020.
UNESCO. Declaração mundial sobre educação para todos e plano de ação para satisfazer as necessidades básicas de aprendizagem. Jomtien, Tailândia: UNESCO, 1990. UNESCO.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Secção
Licença
Direitos de Autor (c) 2022 EccoS – Revista Científica
Este trabalho encontra-se publicado com a Licença Internacional Creative Commons Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 4.0.