Registro reflexivo: um percurso para a qualificação da prática pedagógica, de Daniela Ruiz e Ligia de Carvalho Abões Vercelli. Pedro & João Editores. Jundiaí, 2024, 120 p
DOI:
https://doi.org/10.5585/52.2025.27226Resumo
O livro Registro Reflexivo: um percurso para a qualificação da prática pedagógica, das autoras Daniela Ruiz e Ligia de Carvalho Abões Vercelli, é fruto da pesquisa de Mestrado realizada no Programa de Pós-Graduação Profissional Gestão e Prática Educacionais, da Universidade Nove de Julho (Uninove), cujo objeto de estudo é o registro reflexivo como instrumento na qualificação da prática pedagógica de professoras da Educação Infantil. As autoras objetivaram investigar como as professoras realizam o registro das propostas pedagógicas no cotidiano da creche, como e se os registros reflexivos ressignificam a prática pedagógica na Educação Infantil com base nas ideias de Madalena Freire, Maria Alice Proença e demais autores.
A metodologia utilizada é de natureza qualitativa, e os instrumentos de produção de dados são os registros e as entrevistas semiestruturadas, realizados por duas professoras de uma uma Escola Municipal de Educação Municipal de Educação Básica (Emeb) localizada no município de São Bernardo do Campo, que atende crianças de 0 a 3 anos.
O livro está organizado em cinco seções. Na seção introdutória, as autoras citam o art. 31 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Brasil, LDB, lei no 9394/96), que destaca o registro como um instrumento de avaliação do desenvolvimento das crianças, mas sem a intenção de promoção. A partir disso, ressaltam a importância dos processos de desenvolvimento e de aprendizagem dos bebês e crianças pequenas, tendo o registro um papel importante ao considerar o percurso e não o fim.
Ruiz e Vercelli, com base em Madalena Freire, apontam que, para ampliar o conhecimento sobre as necessidades das crianças, é relevante que os professores realizem minuciosamente a reflexão de suas ações; por isso buscam confirmar a hipótese de que os registros reflexivos se qualificam por meio do processo formativo do professor, com base na ação-reflexão-ação, culminando em resultados significativos de transformações na prática pedagógica.
Na seção 2, intitulada “O Município de São Bernardo do Campo e a Educação Infantil nessa Cidade”, as autoras apresentam dados retirados dos documentos oficiais do município, tais como “Protagonismo e participação em São Bernardo do Campo: olhares pelo caleidoscópio” do ano de 2015 e “A Educação Infantil em São Bernardo do Campo: uma proposta integrada para o trabalho de creches e EMEIs”, também conhecido como “Amarelinho”. Homologado no ano de 1992, o objetivo desse documento é contar a história de São Bernardo do Campo, apresentar suas características geopolíticas e culturais, a fim de ampliar o olhar em relação à urbanização da região, propiciando a compreensão do aumento da população e de loteamentos regulares e irregulares do decorrer dos anos, pois, além dos imigrantes, a cidade recebe muitos migrantes em busca de oportunidade de trabalho, uma vez que é considerada um polo da indústria automobilística.
Na mesma seção, as autoras apresentaram o resgate histórico de alguns aspectos da Educação Infantil do município, em que foi possível notar que, desde a década de 1960, vêm ocorrendo melhorias e quão significativa essa evolução é para os bebês e crianças pequenas nos dias atuais.
As autoras ressaltam que foi em meados de 1992 que as creches da região passaram a ser integradas à Secretaria de Educação e Cultura, sendo um marco histórico que registra o início de grandes transformações para assegurar os direitos das crianças, a partir da publicação da Proposta Curricular intitulada A Educação Infantil em São Bernardo do Campo: uma proposta integrada para o trabalho em creches e EMEIs e da promulgação da LDB, documento que instituiu a Educação Infantil como primeira etapa da Educação Básica. Nessa seção, as autoras apresentam a Unidade Escolar em que foi realizada a pesquisa, as características principais da comunidade e da região em que está localizada.
Ruiz e Vercelli apontam que o nome fictício “Notáveis Escritoras” foi dado à instituição em homenagem às professoras que narram as suas histórias de uma maneira cada vez mais reflexiva. Assim, a terceira seção, sob o título “O Registro Reflexivo como prática docente: olhar o passado para comprometer o presente”, resgata historicamente a função do registro reflexivo na Educação Infantil com base em alguns documentos oficiais e em alguns autores que discutem a importância dos registros na prática pedagógica reflexiva.
Vale lembrar que, no decorrer dessa seção, o leitor tem a oportunidade de se conectar ainda mais com a sua própria prática a partir da leitura da análise dos registros e suas múltiplas fases apresentadas no desenvolvimento da pesquisa, os quais revelam a relevância do percurso formativo planejado com foco nos registros, a pertinência do acompanhamento da coordenação pedagógica a partir de devolutivas e o envolvimento e a parceria das professoras, uma tríade do processo, pois é nos momentos de estudo, trocas de experiências, escrita dos registros que as transformações vão acontecendo, e, aos poucos, o professor reconhece o registro não mais como uma documentação burocrática, e sim como um instrumento que revela novos caminhos e possibilidades para qualificação da prática pedagógica.
Na quarta seção, nomeada como “O registro reflexivo como instrumento na qualificação da prática pedagógica de professoras da educação infantil”, as autoras apresentam as duas professoras participantes do estudo, Carina Rissi e Cora Coralina, e a análise dos dados produzidos a partir da leitura de 24 registros que foram selecionados e elaborados pelas duas docentes entre os anos de 2017 e 2020, bem como as devolutivas da coordenação pedagógica.
Após esse processo, juntamente com o levantamento dos dados produzidos nas entrevistas, as autoras indicam categorias de análises e critérios de classificação dos registros, sendo eles: os registros iniciais, os registros intermediários e os registros reflexivos. Os registros iniciais contemplam uma descrição da proposta pedagógica realizada e não apresentam dados reflexivos sobre a prática; os registros intermediários apresentam uma descrição mais ampliada da proposta pedagógica com um olhar direcionado às aprendizagens das crianças, iniciando uma percepção aos direcionamentos apontados pela coordenação pedagógica, e, por fim, os registros reflexivos nos quais se observa a escrita de critérios mais específicos, como a presença da concepção de criança, a análise da prática, a consideração dos aspectos trazidos pela coordenação pedagógica e a relação entre teoria e prática. São notáveis as transformações dos registros apresentados no livro, porém as autoras pontuam que são evoluções que aconteceram após muitos estudos, discussões e reflexões.
Na quinta e última seção, Ruiz e Vercelli apresentam as considerações finais da pesquisa, nas quais relatam que, após os resgates históricos, o mesmo papel que os registros tinham para as professoras da escola pesquisada foi utilizado como estratégia para coleta de informações sobre o desenvolvimento dos bebês e das crianças. Por esse motivo é importante ter informações descritivas das ações de cada bebê e criança, como um suporte de memorização, pois, antes das formações, não havia, por parte das docentes, nenhuma reflexão, portanto, não serviam como apoio às ações a serem realizadas posteriormente. Segundo as autoras,
Ao negar a escrita e a reflexão de sua prática, os professores deixam de se reconhecer como produtores de conhecimento, não percebendo o valor do seu fazer cotidiano. Tal conquista é processual e de cunho formativo, o que, inicialmente, pode provocar resistência por parte de alguns e envolvimento por parte de outros, mas é preciso começar. Há que se levar a sério os momentos formativos destinados aos professores, especialmente aqueles que acontecem no espaço escolar. As equipes gestoras, em especial os coordenadores pedagógicos, devem utilizar esses momentos como um espaço de compartilhamento de saberes, de estudo baseado nas ações cotidianas, um lugar onde o professor possa expor suas necessidades, colaborando para que, a partir das reflexões sobre suas ações, percebam-se construtores de sua práxis (Ruiz, Vercelli, p.110).
Diante do exposto, as autoras concluem que se faz necessário considerar as individualidades das profissionais envolvidas no processo formativo, pois cada uma se encontra em momentos diferentes nessa jornada de transformação, sendo o coordenador pedagógico a figura crucial para auxiliar a professora no processo de interlocução entre teoria e prática, além de contribuir e provocar as reflexões do grupo, sem esquecer de considerar as necessidades individuais.
Trata-se de uma obra que deve ser compartilhada com os educadores e gestores da escola da primeira infância dos diferentes municípios do país, pois trata do fazer vivenciado por muitas equipes escolares, principalmente aquelas que estão em processo de constituição de grupo. A obra, além de fortalecer as discussões sobre a importância da formação continuada e o papel fundamental da parceria com o coordenador pedagógico nessa jornada, norteia aqueles que buscam amadurecer no que tange aos registros.
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